Novo ministro decepciona neoliberais; Santander anuncia R$ 25 bi para infra-estrutura
Novo ministro da Fazenda decepcionou neoliberais ao anunciar meta suave de superávit primário para o ano que vem, e enfatizar que não haverá agressão aos programas sociais, ao emprego e à renda.
E mostra que as diretrizes fundamentais da economia continuam em mãos da presidenta Dilma.
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Meta de superávit primário em 2015 será 1,2% do PIB, diz Joaquim Levy
Por Wellton Máximo – Repórter da Agência Brasil Edição: Marcos Chagas
A meta de superávit primário – economia para pagar os juros da dívida pública – corresponderá a 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB – soma das riquezas produzidas no país) no próximo ano. O anúncio foi feito há pouco pelo futuro ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
O superávit primário é a economia de recursos para pagar os juros da dívida pública e permite a redução do endividamento do governo no médio e no longo prazos. Segundo o futuro ministro, em 2016 e 2017, o setor público se comprometerá com uma meta de esforço fiscal de pelo menos 2% do PIB.
Segundo Levy, o superávit primário de ao menos 2% é necessário para assegurar a continuidade da redução da dívida líquida do setor público em relação ao PIB. Levy, no entanto, reconheceu que é impossível alcançar esse nível de esforço fiscal no próximo ano.
“Em 2015, a melhora do superávit primário alcançada não deve permitir chegar ao valor de 2% do PIB. Deve-se trabalhar com meta de 1,2%, na forma das estatísticas do Banco Central. Para 2016 e 2017, a meta não será menor que 2% do PIB”, explicou.
O futuro ministro comprometeu-se a ser transparente na divulgação dos dados das contas públicas. Segundo ele, o acesso pleno às informações facilita a tomada de riscos pelas famílias, pelos consumidores e pelos empresários, principalmente nas decisões de investimento.
“Alcançar essas metas [de superávit primário] é fundamental para ampliar confiança na economia brasileira. Isso permite ao país consolidar o crescimento econômico e melhorar as conquistas sociais realizadas ao longo dos últimos 20 anos”, explicou.
Por causa da queda da arrecadação e do aumento dos gastos, o governo anunciou que a meta de superávit primário, no próximo ano, corresponderá a R$ 10,1 bilhões, em vez da meta original de R$ 80,7 bilhões. A redução do esforço fiscal ainda precisa ser aprovada pelo Congresso Nacional.
O anúncio da nova equipe econômica foi feito nesta tarde pelo ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, Thomas Traumann, no Palácio do Planalto. Em nota oficial, a presidenta Dilma Rousseff agradeceu a dedicação dos atuais ministros, que permanecem em seus cargos até que os novos indicados formem suas equipes. Além de Levy, Nelson Barbosa, que assume o Planejamento, e Alexandre Tombini, que permanece no Banco Central, conversaram com a imprensa.
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Outra notícia boa, que desmoraliza totalmente o discurso apocalíptico da mídia. Já informei, em posts anteriores, que o investimento externo direto cresceu em 2014.
Agora, o Santander promete 10 bilhões de dólares, ou seja, mais de 25 bilhões de reais, em crédito para obras de infra-estrutura no Brasil.
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sábado, 29 de novembro de 2014
Sobre Superávit Primário.
terça-feira, 25 de novembro de 2014
Procuradores da Lava Jato dizem que esquema começou no gov. FHC.
Procuradores da Lava Jato dizem que esquema começou no governo FHC
Os procuradores que respondem pela Operação Lava Jato afirmaram ontem, em coletivas de imprensa, que o esquema de cartel das empreiteiras em obras da Petrobrás teve início antes da chegada dos diretores Paulo Roberto Costa e Renato de Souza Duque.
Aliás, sempre é bom lembrar que Costa e Duque estavam na Petrobrás desde os anos 70, e que assumiram cargos de responsabilidade bem antes da eleição de Lula.
Voltando aos procuradores, eles afirmaram que o esquema dura há, no mínimo, 15 anos, ou seja, desde 1999, bem antes de Lula.
Sem esquecer que as mesmas empreiteiras envolvidas no esquema junto a Petrobrás, desbaratado pela Polícia Federal, também estão envolvidas com escândalos relacionados à oposição, como o Rodoanel de São Paulo.
Essas informações são importantes para que o escândalo seja despolitizado e tratado como ele é: uma esquema de corrupção que precisa ser investigado com objetividade.
Corruptos e corruptores acusados no escândalo da Petrobrás não queriam implantar nenhum “bolivarianismo” no país.
Não estão interessados em “revolução comunista”.
Não participam do “Fóro de São Paulo”.
Muito provavelmente não são nenhum entusiastas da reforma agrária ou da necessidade de ampliação de programas sociais.
Ao contrário, são empresários politicamente conservadores, que corromperam servidores que pensam da mesma forma.
Os marchadores golpistas, portanto, devem baixar a bola, porque a informação do Ministério Público confirma um fato insofismável: as investigações de hoje apenas são possíveis em virtude da autonomia e liberdade proporcionadas por Dilma Rousseff à Polícia Federal e ao próprio MP.
Não se trata apenas de autonomia funcional, mas de um posicionamento político republicano, e que inclusive às vezes criticamos como republicano demais, ao permitir um proselitismo político e partidário de oposição dentro das próprias instituições do Estado.
Entretanto, desta vez, o republicanismo radical de Dilma deu certo.
Se os delegados federais responsáveis pelo Lava Jato, ao invés de flagrados fazendo festinha para Aécio Neves e xingando o governo, no Facebook, tivessem sido apanhados na situação contrária, fazendo festinha para Dilma e xingando o PSDB, Dilma estaria sendo chamada de “bolivariana”.
E “bolivariano”, no vocabulário especial da mídia brasileira, que é uma espécie de universo paralelo do ultraconservadorismo, mas com grande influência nos estamentos superiores da sociedade, significa autoritarismo.
Se houve a intenção de transformar a Lava Jato num ensaio de golpe político contra a presidenta, não está dando certo.
A presidenta prometeu que as investigações seriam levadas às últimas consequências e que não sobraria pedra sobre pedra.
Está cumprindo o que prometeu, e da maneira mais democrática e republicana: sem interferir nas investigações.
Como o escândalo respinga em todos os principais partidos e teve início na gestão FHC, atravessando a era Lula, até explodir no governo Dilma, a imprensa de oposição terá dificuldade em aplicar seus critérios de indignação seletiva.
Fonte: OGlobo/Tijolaço
segunda-feira, 24 de novembro de 2014
Revisão das leis de Licitação da Petrobrás.
TCU pede ao STF para rever lei de FHC no petróleo
Ação que pede para que a Petrobras cumpra a Lei de Licitações, eliminando o sistema simplificado de contratações determinado por FHC em 1998, está travada no Supremo há quase dez anos; caso chegou ao STF em 2005, começou a ser julgado em plenário em 2011 e foi interrompido por um pedido de vista do ministro Luiz Fux; não há previsão para que debate seja retomado; nessa semana, diante das investigações da Lava Jato, o presidente do TCU, ministro Augusto Nardes, pediu pressa ao presidente do Supremo, Ricardo Lewandowski
23 de Novembro de 2014 às 13:00
Diante das investigações da Lava Jato, no entanto, o Tribunal de Contas da União (TCU) pediu pressa à Corte suprema. Na última quarta-feira, o presidente do TCU, ministro Augusto Nardes, se reuniu com o presidente do STF, ministro Ricardo Lewandowski, a quem pediu que a matéria fosse julgada logo pelo plenário, obrigando a estatal a não mais fechar contratos à margem da Lei de Licitações, de 1993, como se acostumou a fazer, mas sim nos padrões de serviço público.
O caso chegou ao STF em 2005, segundo reportagem do Globo neste domingo. Uma ação impetrada pela empresa Petrosul pedia que a estatal cumprisse a Lei 8.666, que trata das licitações no setor público. Em 2008, o processo foi julgado pela Primeira Turma do STF. Os ministros Lewandowski e Carlos Alberto Direito, já morto, votaram a favor de que a empresa continuasse com o direito de realizar licitações com base no decreto presidencial assinado em 1998 por FHC. Carlos Ayres Britto, já aposentado, e Cármen Lúcia, defenderam que fosse adotada a Lei das Licitações pela estatal.
Os ministros decidiram que o caso fosse julgado em plenário, que retomou o debate em 2011. Houve um voto a favor de que a estatal continuasse no mesmo regime, do ministro Dias Toffoli, e um contra, de Marco Aurélio Mello. O julgamento foi interrompido pelo pedido de vista do ministro Luiz Fux, que nunca devolveu a ação. Em 2006, quando foi proibida de manter o sistema de cartas-convite para a contratação de empresas, a Petrobras entrou com mandado no STF, que recebeu parecer favorável do ministro Gilmar Mendes, outra oportunidade perdida para tornar mais rígido o regime de contratações simplificado criado por FHC.
domingo, 16 de novembro de 2014
Francischini escondeu um dos suspeitos da Lava Jato.
Francischini escondeu um dos suspeitos da Lava Jato
qua, 28/05/2014 - 13:56
Atualizado em 28/05/2014 - 17:43
Seu nome foi diretamente envolvido nas negociações entre Yousseff e o deputado Luiz Argolo, também do Solidariedade.
Lá pelas tantas, Argolo diz a Yousseff que está fechando um acordo "que acho que vai dar certo". "Francischini fica na liderança fazendo o papel combinado com a gente e eu farei como primeiro vice-líder o encaminhamento em prol do governo e do Palácio. Já falou comigo."
A conversa se refere a um suposto acordo entre Argolo e a empreiteira OAS, representada pelo diretor Mateus Coutinho. Por ele, Argolo prestaria apoio ao Palácio e deixaria Francischini trabalhando na ponta contrária, de interesse da OAS.
Yousseff gostou do combinado:
- Ótimo, esse é o jogo. Depois colocamos Francisquini no bolso. Um de cada vez!
E elogia a esperteza de Argolo:
- Você é fodinha!
Depois, Argolo pergunta a Yousseff se deve aceitar a Comissão de Orçamento ou a vice-liderança do partido. Yousseff recomenda a vice-liderança, porque assim vai estar com o governo e terá mais controle sobre Francischini.
Provavelmente a estratégia de Francisquini, ao comandar o vazamento seletivo do inquérito Lava Jatos, foi ganhar imunidade dos jornais. De fato, vazaram até conversas entre o deputado André Vargas e Yousseff usando o nome do ex-Ministro da Saúde Alexandre Padilha em acordos totalmente improváveis.
Mas o acerto de Yousseff e Argolo, bastante provável - dado o fato de Francischini integrar o Partido de Argolo - permaneceu blindado.
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quinta-feira, 13 de novembro de 2014
De onde sairam os vazamentos para a revista Veja.
POLÍCIA & BANDIDOS
De onde vêm os factoides
Por Luciano Martins Costa em 13/11/2014 na edição 824
Comentário para o programa radiofônico do Observatório, 13/11/2014
Não há nada mais interessante nos jornais de quinta-feira (13/11) do que a reportagem do Estado de S.Paulo
revelando que os delegados federais responsáveis pela Operação
Lava-Jato compunham uma espécie de comitê informal do candidato Aécio
Neves à Presidência da República enquanto vazavam seletivamente para a
imprensa dados do inquérito. A repórter Julia Duailibi teve acesso a
perfis restritos do Facebook, nos quais autoridades da Superintendência
da Polícia Federal do Paraná agem como os mais fanáticos ativistas da
polarização política que marcou a campanha eleitoral.
O texto não explica como a jornalista teve acesso ao material, nem
quando, o que autoriza o leitor a considerar que o jornal podia já
saber, na ocasião, que a fonte das especulações publicadas pela revista Veja
na véspera da eleição era o próprio núcleo de investigações, atuando a
serviço do candidato do PSDB. Segundo o relato, praticamente todos os
agentes envolvidos na apuração, inclusive o chefe da Delegacia de
Repressão a Crimes Fazendários e a titular da delegacia de Repressão a
Crimes Financeiros e Desvios de Recursos Públicos do Paraná, onde estão
os principais inquéritos da operação, agiam como cabos eleitorais na
rede social.
Entre as manifestações coletadas pela repórter há xingamentos vulgares à
presidente Dilma Rousseff e ao ex-presidente Lula da Silva, e elogios
de todo tipo a Aécio Neves – entre eles uma página em que o
ex-governador de Minas aparece em montagem de fotografias na companhia
de mulheres atraentes. Nessa página, o responsável pela Delegacia
Regional de Combate ao Crime Organizado, a quem estão vinculados os
delegados empenhados na Operação Lava-Jato, escreveu: “Esse é o cara!”
Os policiais citados participam de um grupo fechado autointitulado
Organização de Combate à Corrupção (OCC), cujo símbolo é uma caricatura
da presidente da República com dois grandes dentes incisivos e coberta
por uma faixa onde se lê: “Fora, PT!” O conteúdo repete factoides,
mitos, boatos e todo o arsenal usado durante a campanha eleitoral contra
a reeleição da presidente.
Inquérito contaminado
A página inicial da organização ainda pode ser acessada (ver aqui)
no Facebook, embora a participação seja exclusiva para inscritos sob
convite, e apresenta a OCC como “um instituto de orientação da
cidadania, da democracia, da promoção do desenvolvimento econômico e
social e de outros valores universais”.
Ela remete ao blog da suposta entidade (ver aqui),
onde se desenvolvem campanhas em defesa da ditadura militar, teorias
conspiratórias e textos que procuram desacreditar alguns profissionais
da imprensa – num deles, os autores expõem os repórteres Gustavo Uribe,
da Folha de S.Paulo, e Ricardo Chapola, do Estado de S.Paulo.
A OCC tem todas as características de outra organização de
extrema-direita que atuou como força auxiliar da repressão nos tempos da
ditadura militar: o CCC (Comando de Caça aos Comunistas) também começou
como uma entidade da sociedade civil preocupada com a defesa de
supostos “valores universais” e acabou transformado em milícia
terrorista, praticando ações extremas como a depredação de uma emissora
de rádio, atentados a bomba e o assassinato de um padre católico no
Recife.
A reportagem inclui entrevistas com especialistas em Direito
Administrativo e Penal para os quais o posicionamento político de
delegados na condução de uma investigação pode colocar em xeque a
neutralidade e conduzir até mesmo à nulidade de um inquérito. Alguns dos
consultados citam a Operação Satiagraha, que levou à destituição e
condenação do delegado federal Protógenes Queiroz por vazamento de
informações sigilosas. Como se sabe, com essa justificativa a Operação
Satiagraha foi esvaziada por decisão do Supremo Tribunal Federal,
deixando livre o principal acusado, o banqueiro Daniel Dantas.
A revelação feita pelo Estado de S.Paulo e o que se pode apurar
sobre os personagens dessa história compõem um escândalo dentro do
escândalo da Petrobras e expõem a perigosa contaminação de toda uma
superintendência regional da Polícia Federal por interesses externos ao
da atividade policial, o que coloca em dúvida a qualificação de seus
agentes para conduzir essa investigação, e, por consequência, de todo o
noticiário que se seguiu.
Além disso, revela de onde vêm os factoides utilizados pela imprensa
para exercer sua influência em questões importantes para a sociedade
brasileira, como a eleição para a Presidência da República.
domingo, 9 de novembro de 2014
AS EMPRESAS FINANCIADORAS DAS ELEIÇÕES.
08/11/2014
70% dos deputados estão no bolso de 10 empresas
Sete de cada dez deputados federais eleitos receberam recursos de pelo
menos uma das dez empresas que mais fizeram doações eleitorais em 2014.
Os top 10 doadores contribuíram financeiramente para a eleição de 360
dos 513 deputados da nova câmara: 70%. É uma combinação inédita de
concentração e eficiência das doações por parte das contribuidoras.
Umas das principais razões para isso ter acontecido foi que, como suas
assessorias costumam dizer, as empresas não privilegiam "nenhum partido,
candidato ou corrente política". Ao contrário, elas buscam o mais amplo
espectro possível. Os 360 deputados que elas financiaram estão
distribuídos por 23 partidos diferentes.
A maior bancada é a do bife. Empresas do grupo JBS (ou que têm os mesmos
sócios) distribuíram R$ 61,2 milhões para 162 deputados eleitos. Dona
dos maiores frigoríficos do País, a JBS deu recursos para a cúpula de 21
dos 28 partidos representados na nova Câmara, incluindo todos os
grandes. As direções partidárias redistribuíram o dinheiro aos
candidatos.
A tática mostrou-se eficaz. Além de ter sido a maior doadora, a JBS
acabou elegendo a mais numerosa bancada da Câmara — mais do que o dobro
da do maior partido, o PT. Não foi a única que tentou não deixar nenhuma
sigla a descoberto.
O grupo Bradesco doou R$ 20,3 milhões para 113 deputados eleitos por 16
partidos. É a segunda maior bancada empresarial. Ficou à frente do grupo
Itaú, que contribuiu para a eleição de 84 novos deputados de 16
partidos. Mas o concorrente foi mais econômico com o dinheiro: gastou
"só" R$ 6,5 milhões. Há 42 deputados que foram financiados por ambos os
bancos. O Bradesco privilegiou as direções partidárias. O Itaú doou mais
a candidatos.
Construção
Como setor, as empreiteiras têm a maior presença entre os top 10
doadores da nova Câmara. Cinco delas entraram na lista: OAS, Andrade
Gutierrez, Odebrecht, UTC Engenharia e Queiroz Galvão.
A OAS investiu R$ 13 milhões para ajudar a eleger 79 deputados de 17
partidos — do PT ao PSDB, passando pelo PMDB e todos os grandes. Já a
Andrade Gutierrez gastou quase o mesmo valor e ajudou a eleger 68
deputados federais. A Odebrecht doou R$ 6,5 milhões para 62 deputados, a
UTC deu R$ 7,2 milhões para 61 deputados, e a Queiroz Galvão, R$ 7,5
milhões para 57 parlamentares. Mas há muitas sobreposições.
Descontando-se as doações dobradas ou triplicadas que vários novos
deputados receberam de mais de uma empreiteira, a bancada do concreto na
nova Câmara tem 214 deputados de 23 partidos. Isso não inclui
parlamentares que receberam doações de empreiteiras que não entraram nos
top 10, como C.R.Almeida.
O grupo Vale elegeu a maior bancada empresarial. Foram 85 os deputados
eleitos — de 19 partidos — que receberam uma parte dos R$ 17,7 milhões
doados pela empresa. Um deles foi o deputado reeleito pelo PP de Minas
Gerais Luiz Fernando Faria. Ele recebeu R$ 800 mil de mais de uma
empresa do grupo Vale — e já foi presidente da Comissão de Minas e
Energia da Câmara. Mas também recebeu doações de outras sete das top 10
doadoras.
Como a JBS, outra empresa voltada ao consumo popular se destacou nestas
eleições: a Ambev (dona das marcas Brahma e Antarctica, entre outras),
que doou R$ 11,7 milhões e ajudou a eleger 76 deputados de 19 partidos. A
bancada do churrasco, que recebeu do frigorífico e da cervejaria, soma
25 deputados.
Cientista político e professor do Insper, Carlos Melo qualifica tal
alcance do financiamento eleitoral por um grupo tão pequeno de empresas
de "clientelismo": "É claro que compromete o voto do deputado. Como ele
vai dizer que a doações não o influenciou?".
Conflito de interesses
Para Melo, deputados que receberam doações empresariais deveriam se
declarar impedidos de votar em matérias nas quais haja conflito de
interesse com o das empresas que o financiarama. "Como o juiz que não
julga ações em que é parte interessada. Afinal, o voto deve representar o
eleitor, não o financiador."
A maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) já votou
contra a doação de empresas — mas o julgamento não terminou porque
Gilmar Mendes ainda não deu seu voto e travou a votação.
José Roberto de Toledo, Lucas de Abreu Maia e Rodrigo Burgarelli
No Estadão
PARTICIPAÇÃO SOCIAL, O NOVO FANTASMA DAS ELITES.
06.11.2014
[ Brasil ]
Participação Social, o novo fantasma das elites
Ladislau Dowbor
Adital
Reação feroz dos
conservadores ao decreto de Dilma revela incapacidade de compreender
sociedades atuais e interesse de manter política como monopólio dos
"representantes”
O texto na nossa Constituição é claro, e se trata nada menos
do que do fundamento da democracia: "Todo poder emana do povo, que o exerce por
meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.”
Está logo no artigo 1º, e garante portanto a participação cidadã através de
representantes ou diretamente. Ver na aplicação deste artigo, por um presidente
eleito, e que jurou defender a Constituição, um atentado à democracia não pode
ser ignorância: é vulgar defesa de interesses elitistas por quem detesta ver
cidadãos se imiscuindo na política. Preferem se entender com representantes.
A democracia participativa em nenhum lugar substituiu a
democracia representativa. São duas dimensões de exercício da gestão pública. A
verdade é que todos os partidos, de todos os horizontes, sempre convocaram nos
seus discursos a que população participe, apoie, critique, fiscalize, exerça os
seus direitos cidadãos. Mas quando um governo eleito gera espaços
institucionais para que a população possa participar efetivamente, de maneira
organizada, os agrupamentos da direita invertem o discurso.
É útil lembrar aqui as manifestações de junho do ano
passado. As multidões que manifestaram buscavam mais quantidade e qualidade em
mobilidade urbana, saúde, educação e semelhantes. Saíram às ruas justamente
porque as instâncias representativas não constituíam veículo suficiente de
transmissão das necessidades da população para a máquina pública nos seus
diversos níveis. Em outros termos, faltavam correias de transmissão entre as
necessidades da população e os processos decisórios.
Os resultados foram que se construíram viadutos e outras
infraestruturas para carros, desleixando o transporte coletivo de massa e
paralisando as cidades. Uma Sabesp vende água, o que rende dinheiro, mas não
investe em esgotos e tratamento, pois é custo, e o resultado é uma cidade rica
como São Paulo que vive rodeada de esgotos a céu aberto, gerando contaminação a
cada enchente. Esta dinâmica pode ser encontrada em cada cidade do país onde
são algumas empreiteiras e especuladores imobiliários que mandam na política
tradicional, priorizando o lucro corporativo em vez de buscar o bem estar da
população.
Participação funciona. Nada como criar espaços para que seja
ouvida a população, se queremos ser eficientes. Ninguém melhor do que um
residente de um bairro para saber quais ruas se enchem de lama quando chove. As
horas que as pessoas passam no ponto de ônibus e no trânsito diariamente as
levam a engolir a revolta, ou sair indignadas às ruas. Mas o que as pessoas
necessitam é justamente ter canais de expressão das suas prioridades, em vez de
ver nos jornais e na televisão a inauguração de mais um viaduto. Trata-se aqui,
ao gerar canais de participação, de aproximar o uso dos recursos públicos das
necessidades reais da população. Inaugurar viaduto permite belas imagens;
saneamento básico e tratamento de esgotos muito menos.
Mas se para muitos, e em particular para a grande mídia,
trata-se de uma defesa deslavada da política de alcova, para muitos também se
trata de uma incompreensão das próprias dinâmicas mais modernas de gestão
pública.
Um ponto chave, é que o desenvolvimento que todos queremos
está cada vez mais ligado à educação, saúde, mobilidade urbana, cultura, lazer
e semelhantes. Quando as pessoas falam em crescimento da economia, ainda pensam
em comércio, automóvel e semelhantes. A grande realidade é que o essencial dos
processos produtivos se deslocou para as chamadas políticas sociais. O maior
setor econômico dos Estados Unidos, para dar um exemplo, é a saúde,
representando 18,1% do PIB. A totalidade dos setores industriais nos EUA
emprega hoje menos de 10% da população ativa. Se somarmos saúde, educação,
cultura, esporte, lazer, segurança e semelhantes, todos diretamente ligados ao
bem estar da população, temos aqui o que é o principal vetor de
desenvolvimento. Investir na população, no seu bem estar, na sua cultura e
educação, é o que mais rende. Não é gasto, é investimento nas pessoas.
A característica destes setores dinâmicos da sociedade moderna
é que são capilares, têm de chegar de maneira diferenciada a cada cidadão, a
cada criança, a cada casa, a cada bairro. E de maneira diferenciada porque no
agreste terá papel central a água; na metrópole, a mobilidade e a segurança e
assim por diante. Aqui funciona mal a política centralizada e padronizada para
todos: a flexibilidade e ajuste fino ao que as populações precisam e desejam
são fundamentais, e isto exige políticas participativas. Produzir tênis pode
ser feito em qualquer parte do mundo, coloca-se em contêiner e se despacha para
o resto do mundo. Saúde, cultura, educação não são enlatados que se despacham.
São formas densas de organização da sociedade.
Eu sou economista, e faço as contas. Entre outras contas,
fizemos na Pós-Graduação em Administração da PUC-SP um estudo da Pastoral da
Criança. É um gigante, mais de 450 mil pessoas, organizadas em rede, de maneira
participativa e descentralizada. Conseguem reduzir radicalmente, nas regiões
onde trabalham, tanto a mortalidade infantil como as hospitalizações. O custo
total por criança é de 1,70 reais por mês. A revista Exame publica um estudo
sobre esta Organização da Sociedade Civil (OSC), porque tenta entender como se
consegue tantos resultados com tão poucos recursos. Não há provavelmente instituição
mais competitiva, mais eficiente do que a Pastoral, se comparada com as grandes
empresas, bancos ou planos privados de saúde. Cada real que chega a
organizações deste tipo se multiplica.
A explicação desta eficiência é simples: cada mãe está interessada
em que o seu filho não fique doente, e a mobilização deste interesse torna
qualquer iniciativa muito mais produtiva. Gera-se uma parceria em que a
política pública se apoia no interesse que a sociedade tem de assegurar os
resultados que lhe interessam. A eficiência aqui não é porque se aplicou a
última recomendação dos consultores em kai-ban, kai-zen, just-in-time,
lean-and-mean, TQM e semelhantes, mas simplesmente porque se assegurou que os
destinatários finais das políticas se apropriem do processo, controlem os
resultados.
As organizações da sociedade civil têm as suas raízes nas
comunidades onde residem, podem melhor dar expressão organizada às demandas, e
sobre tudo tendem a assegurar a capilaridade das políticas públicas. Nos
Estados Unidos, as OSCs da área da saúde administram grande parte dos projetos,
simplesmente porque são mais eficientes. Não seriam mais eficientes para
produzir automóveis ou represas hidroelétricas. Mas nas áreas sociais, no
controle das políticas ambientais, no conjunto das atividades diretamente
ligadas à qualidade do cotidiano, são simplesmente indispensáveis. O setor
público tem tudo a ganhar com este tipo de parcerias. E fica até estranho os
mesmos meios políticos e empresariais que tanto defendem as parceiras público-privadas
(PPPs), ficarem tão indignados quando aparece a perspectiva de parcerias com as
organizações sociais. O seu conceito de privado é muito estreito.
Eu, de certa forma graças aos militares, conheci muitas
experiências pelo mundo afora, trabalhando nas Nações Unidas. Todos os países
desenvolvidos têm ampla experiência, muito bem sucedida, de sistemas
descentralizados e participativos, de conselhos comunitários e outras estruturas semelhantes. Isto não só torna as
políticas mais eficientes, como gera transparência. É bom que tanto as
instituições públicas como as empresas privadas que executam as políticas
tenham de prestar contas. Democracia, transparência, participação e prestação
de contas fazem bem para todos. Espalhar ódio em nome da democracia não ajuda
nada.
Ladislau Dowbor
Doutor em Ciências Econômicas pela Escola Central de Planejamento e Estatística de Varsóvia, professor titular da PUC de São Paulo e consultor de diversas agências das Nações Unidassábado, 1 de novembro de 2014
A Justiça Italiana e a soltura de Pizzolato.
Os donos da mídia expuseram-se. E agora?
– 30 de outubro de 2014
Ao romper, na campanha eleitoral, todos os limites do jornalismo, Veja expôs oligopólio da comunicação. Que fará governo, além do demorado processo judicial?
Por Venício A. de Lima, no Observatório da Imprensa
Conhecidos os resultados eleitorais, espera-se que, no seu segundo
mandato, a presidente Dilma Rousseff enfrenta a questão inadiável de um
marco regulatório democrático para o setor de comunicações ou “da
regulação econômica do setor” como ela mesma tem dito.
O grand finale do processo de construção de uma “linguagem do ódio” (ver “O que será feito do ódio e de sua linguagem?“) e da partidarização da cobertura jornalística – que vinha progressivamente se radicalizando ao longo de toda a campanha – confirmou os graves riscos para o processo eleitoral e, sobretudo, para a própria democracia, de um mercado oligopolizado que favorece a ação desmesurada e articulada de grupos privados de mídia na defesa de interesses inconfessáveis.
Refiro-me, por óbvio, à edição 2397 da revista Veja, do Grupo Abril, à sua circulação antecipada, à sua planejada repercussão em outros meios de comunicação e à sua utilização (capa reproduzida e distribuída como panfleto) no esforço derradeiro de cabos eleitorais do candidato Aécio Neves (ver aqui).
Liberdade de expressão?
A edição 2397, que não foge ao padrão rotineiro praticado pela Veja, abandona princípios elementares do que possa ser chamado de jornalismo, nos termos definidos historicamente pela própria indústria de comunicações.
Um bom exemplo poderia ser “a teoria da responsabilidade social da imprensa”, consagrada pela Hutchins Commission (Estados Unidos, 1947): “Propiciar relatos fiéis e exatos, separando notícias (reportagens objetivas) das opiniões (que deveriam ser restritas às páginas de opinião) e servir como fórum para intercâmbio de comentários e críticas, dando espaço para que pontos de vista contrários sejam publicados” (ver aqui).
Aparentemente Veja não se preocupa mais com sua credibilidade como produtora de notícias e cultiva de forma calculada um tipo de leitor cujas opiniões ela expressa e confirma. De qualquer maneira, em momentos críticos de um processo eleitoral seu poder de fazer circular “informações” no espaço público é inquestionavelmente ampliado por sua cumplicidade de interesses com outros oligopólios da grande mídia.
Acrescente-se que Veja sempre se ampara legalmente em artimanhas jurídicas de profissionais da advocacia e, muitas vezes, em decisões do próprio Poder Judiciário que tudo permite em nome da liberdade de expressão equacionada, sem mais, com a liberdade da imprensa.
Não foi o que aconteceu dessa vez.
A resposta do TSE
Ações judiciais impetradas pelo PT no TSE tentando diminuir as consequências daquilo que a candidata/presidente Dilma chamou de “terrorismo eleitoral” foram objeto de decisões imediatas e impediram que as consequências fossem ainda mais danosas – embora não houvesse mais tempo para “apagar” insinuações e denúncias publicadas sem qualquer comprovação às vésperas das eleições.
As decisões do TSE, claro, foram rotuladas de “censura” pelo Grupo Abril e unanimemente pelas entidades que representam os oligopólios de mídia – ANJ, Abert e Aner – assim como pelo candidato Aécio Neves, diretamente beneficiado.
De qualquer maneira, a reação pública imediata da candidata/presidente Dilma no horário gratuito de propaganda eleitoral e as decisões do TSE reacendem a esperança de que a regulação democrática do setor de comunicações receba a prioridade que merece no próximo governo.
Talvez a edição 2397 de Veja tenha involuntariamente sido a esperada gota d’água que faltava para que finalmente se regulamente e se cumpram as normas da Constituição de 1988 relativas à comunicação social – que, aliás, aguardam por isso há mais de um quarto de século.
Em especial, urge ser regulamentado e cumprido o parágrafo 5º do artigo 220 que reza: “Os meios de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio ou oligopólio”.
A ver.
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O grand finale do processo de construção de uma “linguagem do ódio” (ver “O que será feito do ódio e de sua linguagem?“) e da partidarização da cobertura jornalística – que vinha progressivamente se radicalizando ao longo de toda a campanha – confirmou os graves riscos para o processo eleitoral e, sobretudo, para a própria democracia, de um mercado oligopolizado que favorece a ação desmesurada e articulada de grupos privados de mídia na defesa de interesses inconfessáveis.
Refiro-me, por óbvio, à edição 2397 da revista Veja, do Grupo Abril, à sua circulação antecipada, à sua planejada repercussão em outros meios de comunicação e à sua utilização (capa reproduzida e distribuída como panfleto) no esforço derradeiro de cabos eleitorais do candidato Aécio Neves (ver aqui).
Liberdade de expressão?
A edição 2397, que não foge ao padrão rotineiro praticado pela Veja, abandona princípios elementares do que possa ser chamado de jornalismo, nos termos definidos historicamente pela própria indústria de comunicações.
Um bom exemplo poderia ser “a teoria da responsabilidade social da imprensa”, consagrada pela Hutchins Commission (Estados Unidos, 1947): “Propiciar relatos fiéis e exatos, separando notícias (reportagens objetivas) das opiniões (que deveriam ser restritas às páginas de opinião) e servir como fórum para intercâmbio de comentários e críticas, dando espaço para que pontos de vista contrários sejam publicados” (ver aqui).
Aparentemente Veja não se preocupa mais com sua credibilidade como produtora de notícias e cultiva de forma calculada um tipo de leitor cujas opiniões ela expressa e confirma. De qualquer maneira, em momentos críticos de um processo eleitoral seu poder de fazer circular “informações” no espaço público é inquestionavelmente ampliado por sua cumplicidade de interesses com outros oligopólios da grande mídia.
Acrescente-se que Veja sempre se ampara legalmente em artimanhas jurídicas de profissionais da advocacia e, muitas vezes, em decisões do próprio Poder Judiciário que tudo permite em nome da liberdade de expressão equacionada, sem mais, com a liberdade da imprensa.
Não foi o que aconteceu dessa vez.
A resposta do TSE
Ações judiciais impetradas pelo PT no TSE tentando diminuir as consequências daquilo que a candidata/presidente Dilma chamou de “terrorismo eleitoral” foram objeto de decisões imediatas e impediram que as consequências fossem ainda mais danosas – embora não houvesse mais tempo para “apagar” insinuações e denúncias publicadas sem qualquer comprovação às vésperas das eleições.
As decisões do TSE, claro, foram rotuladas de “censura” pelo Grupo Abril e unanimemente pelas entidades que representam os oligopólios de mídia – ANJ, Abert e Aner – assim como pelo candidato Aécio Neves, diretamente beneficiado.
De qualquer maneira, a reação pública imediata da candidata/presidente Dilma no horário gratuito de propaganda eleitoral e as decisões do TSE reacendem a esperança de que a regulação democrática do setor de comunicações receba a prioridade que merece no próximo governo.
Talvez a edição 2397 de Veja tenha involuntariamente sido a esperada gota d’água que faltava para que finalmente se regulamente e se cumpram as normas da Constituição de 1988 relativas à comunicação social – que, aliás, aguardam por isso há mais de um quarto de século.
Em especial, urge ser regulamentado e cumprido o parágrafo 5º do artigo 220 que reza: “Os meios de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio ou oligopólio”.
A ver.
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Venício A. Lima é jornalista e
sociólogo, professor titular de Ciência Política e Comunicação da UnB
(aposentado), pesquisador do Centro de Estudos Republicanos Brasileiros
(Cerbras) da UFMG e organizador/autor com Juarez Guimarães e Ana Paola
Amorim de Em defesa de uma opinião pública democrática – conceitos, entraves e desafios (Paulus, 2014), entre outros livros
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