terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Não ao racismo.

Adao e Eva eram negros? Na Africa começou a viagem humana no mundo. Dali empreenderam nossos avós a conquista do planeta. Os diversos caminhos fundaram os diversos destinos, e o sol se ocupou de repartir as cores. Agora as mulheres e os homens, arcoiris da terra, temos mais cores que o arcoiris do céu: mas somos todos africanos emigrados. Até os brancos branquíssimos vem da Africa. Talvez nos neguemos a recordar nossa origem comum porque o racismo produz amnésia, ou porque nos resulta impossivel crer que naqueles tempos remotos o mundo inteiro era nosso reino, imenso mapa sem fronteiras, e nossas pernas eram o único passaporte exigido. (Eduardo Galeano)

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

A quem interessa denegrir o ENEM ?

As exigências feitas ao Enem são ideológicas e não técnicas

Fernando Haddad pôs o dedo na ferida ao considerar que as exigências que alguns promotores e a Justiça têm feito ao Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) têm muito mais aspectos ideológicos que técnicos.
Em nenhum processo seletivo, seja os vestibulares das universidades mais famosas, como os realizados pela Fuvest (USP), Vunesp (Unesp), concursos públicos realizados pela Fundação Carlos Chagas, pela própria Vunesp ou outras instituições, a maioria privadas, o Ministério Público se mobiliza para questionar critérios de correção, exigir devolução de provas para conferência, entre outros.
A argumentação de que os critérios de correção são “subjetivos” é piada. Vários concursos públicos para cargos de nível superior em instituições públicas são feitos com base em questões dissertativas e até incluem redações. Ou ainda concursos para docentes em universidades que incluem “entrevistas” – os critérios não são subjetivos?

E os processos seletivos para ingresso em programas de pós graduação nas universidades que constam de redação, entrevistas e “análise de projetos”? E muitos programas de pós graduação sequer divulgam o número de vagas e as notas dos candidatos. Em 2010, houve um processo seletivo para o programa de pós graduação em serviço social na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em que a prova “dissertativa” foi feita em um dia e dois dias depois saiu o resultado dos classificados. Impressionante a capacidade de trabalho dos docentes daquele programa que conseguem, em menos de dois dias, corrigir centenas de provas dissertativas!
Enfim, se houvesse de fato, uma preocupação do Ministério Público e da Justiça em exigir transparência dos processos seletivos, atuaria ou faria exigências em todos estes casos. Mas o que se vê é quase que uma obsessão com o Enem.
Por que? Será porque ele sinaliza para uma mudança nas formas de ingresso nas universidades, acabando com os famigerados vestibulares que tanto enriquecem fundações privadas e cursinhos pré-vestibulares? Ou porque ele evidencia os problemas do ensino médio e aponta para necessidades de mudança para além do mero preparo para vestibulares? Ou ainda porque ele tem possibilitado o ingresso de estudantes de escolas públicas em universidades públicas por meio do Sisu?
Enfim, toda esta “vigilância” aparente do MP, da mídia e da Justiça em relação ao Enem vai muito além da defesa do interesse público.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Da Série: O que o JN escondeu.

Revista do Brasil - Segredos do Caribe

As evidências de que o dinheiro que arrematou estatais leiloadas pelo governo FHC enriqueceu também gente muito próxima do núcleo tucano transformam um livro em best-seller e a mídia em avestruz – e sugerem uma nova agenda política para o novo ano

Por: Anselmo Massad, Rede Brasil Atual

No final dos anos 1990, Aloysio Biondi, aos 40 anos de profissão, era respeitado no meio jornalístico por não paparicar fontes nem políticos. Costumava guardar recortes de jornais, consultar documentos públicos de bancos, empresas, diários oficiais, fuçar balanços, fazer contas. Crítico do processo de privatizações desencadeado pelo governo de então, as portas começaram a se fechar. Suas colunas na Folha de S. Paulo foram reduzidas, e seu cachê, idem. Seus textos foram parar no extinto Diário Popular e em veículos da imprensa sindical. Antes de morrer, em julho de 2000, deixou o livro "O Brasil Privatizado". “O balanço geral mostra que o Brasil ‘torrou’ suas estatais, e não houve redução alguma na dívida interna”, escreveu.

Esse legado investigativo foi fonte de inspiração do jornalista mineiro Amaury Ribeiro Jr., como ele credita nas primeiras páginas de "A Privataria Tucana", lançado em dezembro. Graças à internet, o livro sobre mazelas políticas do país virou campeão de vendas no fim do ano – e promete ser determinante para a história de 2012.

Recheado de documentos públicos e obtidos em processos judiciais, a reportagem atira para diferentes lados. E pode ter ferido de morte expoentes do PSDB, envolvidos no processo de privatização durante a década de 1990.

Que a venda de estatais foi pautada por convicções ideológicas e interesses do mercado, até os beneficiados por elas admitem. A falta de transparência, a confusão entre interesses públicos e privados e as suspeitas de irregularidades permearam o processo. Reportagens publicadas no período ofereciam farto material – em fontes oficiais, escutas telefônicas e documentos de contas em paraísos fiscais.

A mesma velha mídia que fechara portas a Biondi reagiu com silêncio sepulcral. “Quando peguei a Veja da semana e vi que não tinha nada sobre o livro (risos)... Percebi que demos um nocaute na grande imprensa, na blindagem que têm os tucanos”, disse Amaury Ribeiro Jr., em debate realizado no auditório do Sindicato dos Bancários de São Paulo, que Biondi também frequentou. O livro só foi mencionado em páginas de jornal e de revista quando apareceu entre os mais vendidos.

A investigação de Ribeiro Jr. começou em 2001, quando, recém-transferido para O Estado de Minas, em Belo Horizonte, foi encarregado de acumular material contra José Serra. A encomenda era proteger Aécio Neves, então e atual presidenciável tucano.

E o caso viria à tona em 2010, quando o jornalista foi apontado como membro de uma suposta “central de inteligência” da campanha petista pela eleição de Dilma Rousseff à Presidência da República. Ele acredita ter sido vítima de uma armação para incriminá-lo, na tentativa de criar uma “vacina” contra uma eventual publicação do livro durante o processo eleitoral.

O jornalista revela documentos que indicam pagamento de Carlos Jereissati – do grupo La Fonte, que venceu o leilão para a compra da Telemar em 1998 – a Ricardo Sérgio de Oliveira.

O ex-diretor da área internacional do Banco do Brasil e tesoureiro de campanhas eleitorais de FHC e de Serra é apresentado como “artesão” dos consórcios de privatização – trabalho para o qual teria sido remunerado “extraoficialmente”. Documentar esse papel é, na visão do próprio Ribeiro Jr., uma das novidades do livro.

O ex-governador paulista é outro dos personagens centrais, tanto por iniciativas de contratar empresas de espionagem com dinheiro público no Ministério da Saúde e no Palácio do Planalto como por ter familiares envolvidos em operações de lavagem de dinheiro. A filha Verônica, o genro Alexandre Bourgeois e o primo de sua mulher Gregório Marin Preciado são os acusados.

Outros personagens carimbados das privatizações também aparecem, e vão além da figuração. Daniel Dantas, dono do banco Opportunity e protagonista dos malfeitos investigados pela Operação Satiagraha, da Polícia Federal, em 2008, é um deles.

São descritas operações ilegais para trazer ao país dinheiro guardado no exterior. Há curiosas revelações relacionadas à sociedade entre a irmã do banqueiro, Verônica Dantas, e a xará Verônica Serra. A parceria na Decidir.com estabelece um elo umbilical entre uma figura cercada de suspeitas e o núcleo familiar do cacique tucano.


Modus operandi

Boa parte das operações descritas pelo autor segue caminho semelhante. Por meio de doleiros, recursos de provável desvio de verbas ou pagamento de propinas é remetido ao exterior. Isso aconteceu em profusão por meio do Banestado, banco estadual paranaense, liquidado em 2000 pelo Banco Central. A lavanderia operada nos quatro últimos anos de existência da instituição incluía passagem pelos Estados Unidos para, depois, aportar nas Ilhas Virgens Britânicas, no Caribe, e outros paraísos fiscais.

Na hora de trazer o recurso de volta, a chamada internalização, simula-se um investimento direto de empresa estrangeira em um empreendimento nacional. Por isso, a transação pouco comove o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) do Ministério da Fazenda, que fiscaliza essas movimentações.

Mas a farsa cai diante da revelação de que as operações nas quais os mencionados no livro se envolveram eram promovidas com a assinatura da mesma pessoa tanto na saída dos recursos do paraíso fiscal como na entrada, no Brasil. Em outras palavras, o que parecia ser o país atraindo dinheiro de estrangeiros era, de fato, uma forma de esconder a origem do dinheiro e sonegar impostos.

Mais que a necessidade de se investigar e responsabilizar pública e penalmente os artífices de eventuais ilegalidades da privataria, o livro provoca uma discussão: a do combate à permissividade da legislação brasileira com transações financeiras via offshore. O nome desse tipo de empresa instalada em paraísos fiscais tem origem, não por acaso, no termo em inglês usado para designar ilhas usadas por piratas do século 18 para guardar tesouros.

O fato é que não há motivos para um investimento com dinheiro limpo precisar passar por paraísos fiscais. Esses locais, por não exigirem comprovação de origem nem detalhamento da identidade do depositante, servem amplamente a quem precisa esconder verbas públicas desviadas, manobras de sonegação de impostos ou rendimentos do crime organizado.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

EDUCAÇÃO.

16/01/2012 – 17h09
Públicas têm mais candidatos aprovados na OAB; veja lista
DE SÃO PAULO
A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) divulgou nesta segunda-feira a relação das instituições de ensino que tiveram o melhor desempenho no 5º Exame de Ordem Unificado.
Veja a lista de todas as instituições
Segundo a entidade, as instituições públicas se destacaram entre as que mais tiveram estudantes aprovados no exame, que permite aos bacharéis atuarem como advogados.
O melhor desempenho foi da Universidade Federal do Espírito Santo, com 80,8% de alunos aprovados, seguido pela Universidade Federal de Pernambuco (78,6%) e pela Universidade Federal de Minas Gerais (77,9%).
ESTADOS
O índice de aprovação do exame foi de 24%. Ao todo, 106.086 fizeram a prova e 26.010 passaram e vão receber a carteira profissional para exercer a advocacia.
A Bahia foi o Estado que, proporcionalmente, apresentou o melhor desempenho no Exame, com um índice de aprovação de 30,6% –dos 5.053 candidatos, 1.548 foram aprovados. Em segundo lugar ficou Santa Catarina, que obteve um índice de 29%, seguido de Rio Grande do Sul (28,78%), Rio de Janeiro (28,27%), Minas Gerais (27,63%)
UNIVERSIDADES QUE MAIS APROVARAM CANDIDATOS
Posição
Instituição
Índice de aprovação

Universidade Federal do Espírito Santo
80,80%

Universidade Federal de Pernambuco
78,57%

Universidade Federal de Minas Gerais
77,89%

Universidade Federal do Ceará
77,05%

Universidade Federal de Juiz de Fora
76,12%

Universidade Federal de Pelotas
74,67%

Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
73,81%

Universidade de São Paulo
72,05%

Universidade Federal do Paraná
71,64%
10º
Universidade de Federal de Santa Catarina
70,51%
11º
Universidade Federal de Viçosa
69,57%
12º
Fundação Universidade Federal do Rio Grande
69,44%
13º
Universidade Federal do Estado da Bahia
69,23%
14º
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
68,75%
15º
Universidade Federal da Bahia
68,14%
16º
Universidade Federal da Paraíba
66,67%
16º
Universidade Estadual de Montes Claros
66,67%
18º
Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
66,18%
19º
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
66,13%
20º
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
65,16%

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

A sociedade consumista se preocupa com o ser humano?

A exploração de menores na cadeia produtiva da Apple

Por Glauber
Do Business Insider
O custo humano de iPads e iPhones
Título original: Your iPhone Was Built, In Part, By 13 Year-Olds Working 16 Hours A Day For 70 Cents An Hour

Por: Henry Blodget
Todos nós adoramos iPhones e iPads.
Todos nós adoramos os preços dos nossos iPhones e iPads [isso nos EUA].
E todos nós admiramos o super-ultra-lucro da Apple [isso, suponho, nos EUA], o fabricante de nossos iPhones e iPads.
É por isso que é estranho perceber que os baixos preços de nossos iPhones e iPads - e o super-ultra-lucro da Apple - somente são possíveis porque nossos iPhones e iPads são fabricados com práticas trabalhistas que seriam ilegais nos Estados Unidos.
também estranho perceber que os colegas que fazem nossos iPhones e iPads não apenas não possuem iPhones e iPadsiPhone (porque não podem comprar), como, em alguns casos, nunca viram um iPhone ou iPad. Esta é uma questao complicada. Mas também importante. E vai se tornando mais importante a medida que a economia mundial se torna cada vez mais entrelaçada.
Semana passada, a NPR [uma rádio pública americana] fez um especial sobre a linha de produção da Apple. O programa apresentou (entre outros) o relato de Mike Daisey, o apresentador que faz o programa "The Agony and Ecstasy of Steve Jobs", e o Nicholas Kristof do New York Times, cuja esposa é da China.
Você pode ler um transcrito do programa inteiro aqui (http://www.thisamericanlife.org/radio-archives/episode/454/transcript). Alguns detalhes apresentados no programa:
- A cidade chinesa de Shenzhen é onde a maioria dos nossos "brinquedinhos" são fabricados. Há 30 anos, Shenzhen era uma pequena vila a beira de um rio. Hoje é uma cidade de 13 milhões de pessoas - maior que Nova York.
- A Foxconn, uma das empresas que fabrica os iPhones e iPads (e também produtos para muitas outras empresas), possui uma fábrica em Shenzhen que emprega 430.000 pessoas.
- Existem 20 cafeterias na Foxconn de Shenzen. Cada uma delas serve 10.000 pessoas.
- Um trabalhador da Foxconn que Mike Daisey entrevistou, do lado de fora dos portões da fábrica controlados por guardas armados, foi uma garota de 13 anos. Ela fazia o polimento da tela de milhares de iPhones e iPads por dia.
- A adolescente disse que a Foxconn na verdade não checa a idade. De vez em quando ocorrem inspeções, mas a Foxconn sempre sabe quando elas irão ocorrer. E antes que os inspetores cheguem, a Foxconn apenas substitui os trabalhadores jovens pelos mais velhos.
- Nas primeiras duas horas fora dos portões da fábrica, Daisey encontrou trabalhadores que dizem ter 14, 13 e 12 anos de idade (junto com vários outros trabalhadores mais velhos). Daisey estima que em torno de 5% dos trabalhadores com quem ele conversou são menores.
- Daisey assume que a Apple, obcecada com os detalhes, deve ter conhecimento disto. Ou, se não, deve ser porque não quer saber.
- Daisey visita outras fábricas de Shenzhen, como potencial cliente. Ele descobre que a maioria dos andares térreos da fábrica são salas amplas com 20.000-30.000 trabalhadores. As salas são silenciosas: não há maquinaria e não há conversa. Quando o trabalho custa tão pouco, não há motivo para construir nada que não seja com as mãos.
- A hora de um trabalhador chinês tem 60 minutos – diferente da “hora” americana, que geralmente inclui Facebook, banheiro, uma chama telefonica e alguma conversa. O dia de trabalho oficial na China tem 8 horas, mas a jornada padrão é de 12 horas. Geralmente, essas jornadas se extendem por 14-16 horas, especialmente quando há um novo aparelho para ser montado. Enquanto Daisey estava em Shenzhen, um trabalhador da Foxconn morreu após trabalhar uma jornada de 34 horas.
- As linhas de montagem se movem na mesma velocidade que o trabalhador mais lento, então todos os trabalhadores são vigiados (com câmeras). Maioria das pessoas fica em pé.
- Os trabalhadores ficam em dormitórios. Numa área de 12-por-12, Daisey conta 15 camas, empilhadas até o teto. Um americano médio não caberia nelas.
- Os sindicatos são ilegais na China. Qualquer um que tente a sindicalização é preso.
- Daisey entevista vários antigos trabalhadores que estão secretamente apoiando um sindicato. Um grupo falou sobre o uso de hexano, uma substância usada para limpar a tela do iPhone. O hexano evapora mais rápido que os outros solventes, o que permite que a linha de produção ande mais rápido. O hexano é também neurotóxico. As mãos dos trabalhadores que contam isso para ele se agitam freneticamente.
- Alguns trabalhadores não podem mais trabalhar porque suas mãos ficaram comprometidas ao realizar a mesma tarefa centenas de milhares de vezes ao longo dos anos.
- Um homem teve sua mão machucada numa prensa de metal na Foxconn. A Foxconn não forneceu assistência médica. Quando a mão melhorou, ele não podia trabalhar. Foi então demitido pela Foxconn.
- Este homen, a propósito, fazia as capas de metal dos iPads na Foxconn. Daisey mostrou a ele seu iPad. O homem nunca tinha visto um antes. Daisey entregou o iPad pra ele brincar, que então disse: isso é “mágico”.
(...)

Mundo Moderno.

“És importante que desde pequeño aprenda bien como és todo.” 

Assis Ribeiro

domingo, 15 de janeiro de 2012

Do blog da Cidadania. Eduardo Guimarães.


Churrascão no Vestíbulo do Inferno




O “Vestíbulo do Inferno” aparece na primeira parte da Divina Comédia, obra monumental do escritor, poeta e político italiano Dante Aligheri (Florença, 1265 — Ravenna, 1321). As outras duas partes são “Purgatório” e “Paraíso”.
Divina Comédia versa sobre odisséia do Poeta no inferno conceitual da Idade Média. O périplo de Dante Aligheri pelos nove círculos infernais é guiado pelo poeta romano Virgílio, que vivera quase dois mil anos antes.
Tive uma edição italiana do Inferno de Dante de capa dura (revestida de couro entalhado a mão), primorosamente ilustrada por Gustave Doré. Presente da mãe. Durante anos, vez após outra, degustava cada sílaba do verso do Poeta e cada traço da imaginação do artista.
Lembrei-me da obra medieval ao participar do “churrascão” que ONGs e movimentos sociais promoveram ontem na esquina da rua Helvétia com a alameda Dino Bueno, no olho do furacão, na Cracolândia de São Paulo.
O “Vestíbulo” é para onde vão as almas dos que não são aceitos no céu, mas que não merecem ir para o inferno. Exatamente como aqueles farrapos humanos prisioneiros de seus infernos particulares aos quais se pretendeu mostrar que nem todos os esqueceram.

Mas não foi só aos condenados que a iniciativa se deveu. Pretendeu-se mostrar ao governo do Estado (policial) de São Paulo e às suas forças de repressão que há quem não aceite os métodos que estão empregando contra aqueles que continuam sendo seres humanos.
Quem esteve lá sabe o que viu e ouviu. E eu sei. Os raros relatos de prisioneiros do crack desconfiados de que aquilo que ali acontecia não poderia ser em seu benefício – pois nada jamais é – tratam de supostos crimes cometidos por seus algozes.
Relatam que apanham até quando estão dormindo. Um deles disse que a polícia espancou alguém de seu grupo, jogou a pessoa no meio da rua e atropelou. E quando perguntados sobre o que gostariam de dizer à sociedade, dizem que apenas gostariam de parar de apanhar.
A presença da polícia, pois, era ameaçadoramente ostensiva. Entendo que até deveria estar lá para proteger os manifestantes, pessoas de classe média, a grande maioria jovem. Mas se o objetivo fosse proteger não deveria ter ficado tão longe – a uns cem metros de distância.
Então percebo que do teto de uma das bases móveis da polícia estão filmando tudo. Decido ir até lá perguntar a razão.
– Boa tarde, policial.
– O que você quer?
– O senhor poderia me informar a razão da filmagem?
– Não posso. Só o capitão (…).
– Onde ele está?
– Atrás do furgão.
Contorno a base móvel da PM.
– O sr. é o Capitão (…)?
– Eu mesmo.
– Gostaria de saber por que os senhores estão filmando o ato público.
– Em primeiro lugar, quem é você?
– Sou do Blog da Cidadania. Vim cobrir a manifestação.
– Não podemos falar.
– Por que não?
– Ordens.
– De quem?
– Não posso dar informações.

Distancio-me alguns metros do furgão e, naquele momento, sucede uma cena no mínimo curiosa: enquanto fotografo o equipamento de filmagem e o aparato policial em seu entorno, sou fotografado. Travei uma guerra de câmeras com a PM.
A atitude pouco amistosa dos policiais, o interesse inexistente ou proibido de dar satisfações à sociedade sobre seus métodos de atuação, tudo isso deixa ver uma paranóia contra não se sabe o que. Era como se temessem um atentado terrorista.
A quem filmavam? Será que alguém iria traficar drogas em um local que tinha tantas câmeras e tanta polícia? Para que filmariam aqueles farrapos humanos que tão bem conhecem, pois de lá não saem?
Quem foi filmado, portanto, foram aqueles que levaram alento e comida a esfaimados. Mas por que? Que crime poderíamos cometer ao levar um sopro de humanidade ao inferno?


Refleti, naquele momento, que o Estado está completamente divorciado da sociedade, em São Paulo. O cidadão que diverge das autoridades locais é visto como inimigo. Por isso a polícia paulista é tão grosseira, autoritária e violenta.
As constatações deprimentes que aquela descida ao inferno causou, porém, não parariam por ali. Os zumbis do crack e os visitantes solidários pouco se misturavam. Os receptivos eram moradores de rua, mas não necessariamente usuários daquele veneno.
Alguns usuários de fato atravessavam a multidão dando encontrões de raspão, aparentemente contrariados. Fiquei imaginando se não temiam que tudo aquilo lhes fosse cobrado pelos opressores quando fôssemos embora.
Aqueles filhos de Deus rescendendo a morte, a excrementos, a álcool, com bocas desdentadas, feridas espalhadas e olhares mortiços… Como ir embora e deixá-los lá? Como sair dali sem ter feito nada? E o que é mais: como purgar a culpa por fazê-lo?
Moças e rapazes tentavam puxar canções, instilar alguma alegria no entorno – como se fosse possível –, mas não repercutia. Não havia espaço para outro sentimento além da perplexidade. E a separação tácita entre visitantes e anfitriões, mesmo estando misturados, tornava tudo pior.
Após resistir por cerca de uma hora, não suportei mais. Despedi-me de amigos que lá encontrei e saí em fuga daquele inferno. E sem olhar para trás.
Perdi a noção de tempo e espaço. Caminhei debaixo de chuva por quilômetros. Só então parei um táxi. Chegando em casa, tomei uma dose de cachaça. E mais outra. Lá pela terceira percebi o que estivera fazendo: tentara, sem sucesso, redimir-me da culpa.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Tratamento de choque tucano.

Charge do Bessinha

Para Reflexão.

O Papa e as ameaças à humanidade

Por Jean Wyllys, na CartaCapital:

O papa Bento XVI disse que o casamento homossexual “ameaça o futuro da humanidade”.

Eu pensava que o que o ameaçava eram as guerras (muitas delas étnicas ou religiosas), a fome, a miséria econômica, a desigualdade e as injustiças sociais, a violência, o tráfico de drogas e de armas, a corrupção, o crime organizado, as ditaduras de todo tipo, a supressão das liberdades em diferentes países, os genocídios, a poluição ambiental, a destruição das florestas, as epidemias… Porém o papa, mesmo ciente de todos esses males e consciente de que sua instituição – a Igreja Católica Apostólica Romana – contribuiu com muitos deles ao longo da história ocidental, disse que a humanidade é ameaçada pelo fato de dois homens ou duas mulheres se amarem e, por isso, decidirem construir um projeto de vida comum e obter o reconhecimento legal dessa união para gozar de direitos já garantidos aos heterossexuais.



O amor e a felicidade como ameaças contra a humanidade: foi o que afirmou Bento XVI.

O amor, uma ameaça?!

Dentre todos os desatinos do papa, este foi o que mais me chocou. Talvez porque sua afirmação estapafúrdia e anacrônica tenha violado diretamente a minha dignidade humana de homossexual assumido e orgulhoso de minha orientação sexual e de minha formação científica (sim, porque a afirmação de Bento XVI parte da crença absurda de que o casamento civil igualitário vai transformar todos os homens e mulheres em homossexuais e vai impedir que todas as mulheres da Terra recorram às técnicas de reprodução artificial).

Ora, o amor, como a fé, é inexplicável: sente-se ou não. Não há dicionário que possa defini-lo; só o poeta pode dizer alguma coisa a respeito — fogo que arde sem se ver, ferida que dói e não se sente — mas para entendê-lo é preciso sentir tudo aquilo que o papa, os cardeais, os bispos e os padres, pelas regras do trabalho que escolheram desde jovens, são proibidos de sentir – seja por outro homem, seja por uma mulher.

Talvez por isso eles não entendem.

Mas o amor nunca poderia ser uma ameaça para a humanidade; antes, sim, uma salvação para os seus piores males, um antídoto contra os venenos que a intoxicam, uma vacina contra as doenças que a afligem. O papa está errado de cabo a rabo. Ele não entendeu nada mesmo.

Contudo, mesmo não entendendo, ele deveria ter um pouco de responsabilidade. Suas palavras têm poder, influência, entram na cabeça e no coração de milhões de pessoas no mundo inteiro. Ele poderia usá-las para fazer o bem. Em vez de dedicar tanto tempo e esforço a injuriar os homossexuais — eu confesso que não consigo entender o porquê dessa obsessão que ele tem com a gente — o papa poderia se colocar na luta contra os verdadeiros males que ameaçam, sim, a humanidade. Esses que matam milhões, que arruínam vidas, que condenam povos inteiros.

Bento XVI não pode continuar difundindo o ódio e o preconceito contra os gays. Ele não pode dizer que nós, só por amarmos, só por reclamarmos que o nosso amor seja respeitado e reconhecido, somos “uma ameaça”. Aliás, porque esse tipo de frases têm uma história. “Os judeus são a nossa desgraça!” (“Die Juden sind unser Unglück!”), disse o historiador Heinrich von Treitschke, e essa desgraçada expressão, publicada na revista alemã Der Sturmer e logo usada como lema pelos nazistas, deu no que deu. Nós, homossexuais, também sabemos disso: o nosso destino na Alemanha nazista, onde Bento XVI passou sua juventude, era o mesmo dos judeus, só que em vez da estrela de Davi, o que nos identificava noscampos de concentração era o triângulo rosa.

A tragédia do nazismo deveria ter servido para aprender que o outro, o diferente, não é uma ameaça, nem uma desgraça, nem o inimigo. E nós, homossexuais, não ameaçamos ninguém. O nosso amor é tão belo e saudável como o de qualquer um. E merecemos o mesmo respeito e os mesmos direitos que qualquer um.

Da mesma maneira que acontece agora com o “casamento gay”, o casamento entre negros e brancos — chamado, na época, “casamento inter-racial” — já foi considerado “antinatural e contrário à lei de Deus” e uma ameaça contra a civilização. Numa sentença de 1966, um tribunal de Virgínia que convalidou sua proibição usou estas palavras: “Deus todo-poderoso criou as raças branca, negra, amarela, malaia e vermelha e as colocou em continentes separados. O fato de Ele tê-las separado demonstra que Ele não tinha a intenção de que as raças se misturassem”. O casamento entre alemães “da raça ária” e judeus também foi proibido por Hitler. Até os evangélicos tiveram o direito ao casamento negado em muitos países durante muito tempo, porque eram, também, uma ameaça para a Igreja católica. Parece que alguns pastores não se lembram, mas foi assim.

Na Argentina, que em 2010 aprovou o casamento igualitário, a primeira grande reforma ao Código Civil, no século XIX, foi impulsionada pela demanda dos protestantes, que reclamavam o direito a se casar. Vários casais não católicos se apresentaram na Justiça, como agora fazem os homossexuais. Quando o país aprovou a lei de criação do Registro Civil e, depois, o matrimônio civil, em 1888, houve graves enfrentamentos entre o governo argentino e a Igreja Católica, que incluíram a quebra das relações diplomáticas com o Vaticano. No Senado, um dos opositores ao matrimônio civil disse que, a partir de sua aprovação, perdida a “santidade” do matrimônio, a família deixaria de existir. A lei foi chamada de “obra-mestra da sabedoria satânica” por monsenhor Mamerto Esquiú, quem disse sobre os governantes argentinos da época que “amamentam-se dos peitos da grande prostituta, a Revolução Francesa”. Todas a predições apocalípticas que foram feitas contra a lei de matrimônio civil, no entanto, não se cumpriram. Anunciaram, garantiram que o mundo ia se acabar… mas o mundo não se acabou.

Passou-se mais de um século, mas as discussões são as mesmas. Os argumentos são os mesmos. E o papa Bento XVI continua sem entender. Não entende, tampouco, que o casamento civil e o casamento religioso são duas instituições diferentes. O casamento civil está regulamentado pelo Código Civil, que pode ser modificado pelo Congresso, já o casamento religioso depende das leis de cada igreja: por exemplo, o casamento católico é diferente do casamento judeu.

O casamento religioso é feito na igreja, templo, mesquita ou terreiro; o civil, no cartório. Para celebrar o casamento religioso na Igreja católica, os noivos devem ser batizados ou fazer um juramento supletório do batismo e devem realizar um curso prévio na igreja – o que não é necessário para o casamento civil, que pode ser celebrado por pessoas de qualquer religião ou por ateus. O casamento religioso, na maioria das igrejas cristãs, é indissolúvel – já o civil admite o divórcio.

Em conseqüência, uma pessoa pode se casar na Igreja apenas uma vez na vida, mas pode casar quantas vezes quiser no cartório, desde que seja divorciada. O casamento religioso, para que produza efeitos jurídicos, deve ser registrado no cartório – os efeitos jurídicos do casamento civil são imediatos. E essas são apenas algumas das muitas diferenças que existem entre o casamento civil e o religioso…
O que nós, homossexuais, reclamamos é o direito ao casamento civil. O projeto de emenda constitucional (PEC) que estou impulsionando no Congresso não mexe em nada com casamento religioso, cujos efeitos jurídicos são reconhecidos no art. 226 § 2 da Constituição, que se manterá inalterado. Meu projeto legaliza o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, mas nada diz sobre o casamento religioso. Da mesma maneira que o Estado não deve interferir na liberdade religiosa, as religiões não devem interferir no direito civil. Este último é uma instituição laica, que deve atender por igual as necessidades daqueles e daquelas que acreditam em Deus — em qualquer Deus ou em vários Deuses — e também daqueles e daquelas que não acreditam.

Chegará o dia no qual uma criança irá à biblioteca da escola para procurar, nos livros de história, alguma explicação sobre um fato surpreendente que o professor comentou em sala de aula: “Até o início do século 21, o casamento entre dois homens ou duas mulheres não era permitido”. Para o nosso pequeno cidadão, essa antiga proibição resultará tão absurda como hoje nos resulta a proibição do casamento entre negros e brancos, ou do voto feminino. E se ele descobrir, na biblioteca, que houve um dia em que um papa disse que o casamento gay ameaçava a humanidade, provavelmente sentirá a mesma repulsa que nós sentimos ao lermos a desgraçada frase de von Treitschke.

Bento XVI deveria pensar se ele quer passar à história dessa maneira. Ainda está em tempo.

Tomara que algum dia ele seja capaz de entender e aceitar o amor — qualquer maneira de amor e de amar — e fazer aquilo que Jesus Cristo pregava: “Amarás ao próximo como a ti mesmo”

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Da série: Esse nunca dantes. ( Lula).

Coca-Cola Zero e outros refrigerantes que podem provocar câncer.

Coca-cola Zero é proibida nos EUA. E no Brasil, sete refrigerantes têm substância cancerígena



  • Coca-cola Zero. Sukita Zero. Fanta Light. Dolly Guaraná. Dolly Guaraná Diet. Fanta Laranja. Sprite Zero. Sukita. Oito bebidas e duas substâncias altamente nocivas ao ser humano. Na Coca-cola Zero, está o ciclamato de sódio, um agente químico que reconhecidamente faz mal à saúde. Nos outros sete refrigerantes, está o benzeno, uma substância potencialmente cancerígena.Essa é a mais recente descoberta que vem sendo publicada na mídia e que só agora chega aos ouvidos das maiores vítimas do refrigerante: os consumidores. A pergunta que vem logo à mente é: “por que só agora isso está sendo divulgado?”. E, pior: “se estes refrigerantes fazem tão mal à saúde, por que sua venda é permitida?”.
    Nos Estados Unidos da América, a Coca-cola Zero já é proibida pelo F.D.A. (Federal Drugs Administration), mas sua venda continua em alta nos países em desenvolvimento ou não desenvolvidos, como os da Europa Oriental e América Latina. O motivo é o baixo custo do ciclamato de sódio (10 dólares por quilo) quando comparado ao Aspartame (152 dólares/Kg), substância presente na Coca-cola Light. O que isso quer dizer? Simplesmente que mesmo contendo substância danosa à saúde, a Coca Zero resulta num baixo custo para a companhia, tendo por isso uma massificação da propaganda para gerar mais vendas.
    Não basta o cigarro?
    E a ironia não para por aí. Para quem se pergunta sobre os países desenvolvidos, aqui vai a resposta: nos Estados Unidos, no Canadá, no Reino Unido e na maioria dos países europeus, a Coca-cola Zero não tem ciclamato de sódio. A luta insaciável pelos lucros da Coca-cola Company são mais fortes nos países pobres, até porque é onde menos se tem conhecimento, ou se dá importância, a essa informações.
    No Brasil, o susto é ainda maior. Uma pesquisa realizada pela Pro Teste – Associação Brasileira de Defesa do Consumidor – verificou a presença do benzeno em índices alarmantes na Sukita Zero (20 microgramas por litro) e na Fanta Light (7,5 microgramas). Já nos refrigerantes Dolly Guaraná, Dolly Guaraná Diet, Fanta Laranja, Sprite Zero e Sukita, o índice de benzeno estava abaixo do limite de 5 microgramas por litro.
    Só para se ter uma idéia, o benzeno está presente no ambiente através da fumaça do cigarro e da queima de combustível. Agora, imagine isso no seu organismo ao ingerir um dos refrigerantes citados. Utilizado como matéria-prima de produtos como detergente, borracha sintética e náilon, o benzeno está relacionado a leucemias e ao linfoma. Contudo, apesar de seus malefícios, o consumo da substância não significa necessariamente que a pessoa terá câncer, pois cada organismo tem seu nível de tolerância e vulnerabilidade.
    Corantes e adoçantes
    Na mesma pesquisa da Pro Teste, constatou-se que as crianças correm um grande risco, pois foram encontrados adoçantes na versão tradicional do Grapette, não informados no rótulo. Nos refrigerantes Fanta Laranja, Fanta Laranja Light, Grapette, Grapette Diet, Sukita e Sukita Zero, foram identificados os corantes amarelo crepúsculo, que favorece a hiperatividade infantil e já foi proibido na Europa, e o amarelo tartrazina, com alto potencial alérgico.
    Enquanto a pesquisa acusa uma urgente substituição dos corantes por ácido benzóico, por exemplo, a Coca-cola, que produz a Fanta, defende-se dizendo que cumpre a lei e informa a presença dos corantes nos rótulos das bebidas. A AmBev, que fabrica a Sukita, informou que trabalha “sob os mais rígidos padrões de qualidade e em total atendimento à legislação brasileira”.
    Por fim, a Refrigerantes Pakera, fabricante do Grapette, diz que a bebida pode ter sido contaminada por adoçantes porque as duas versões são feitas na mesma máquina e algum resíduo pode ter ficado nos tanques.
    Quando será o fim dessa novela e da venda dos refrigerantes que contém substâncias nocivas à saúde, ninguém sabe. Mas enquanto os fabricantes deixam a ética e o respeito ao cidadão de lado em busca do lucro exacerbado, você tem a liberdade de decidir entre tomar esse veneno ou preservar a qualidade do seu organismo. Agora, é com você!

    domingo, 8 de janeiro de 2012

    Quando ser reacionário é politicamente incorreto.

    Leandro Narloch e a direita politicamente incorreta



    Há uns quinze, vinte anos atrás, ser politicamente incorreto era visto, erroneamente, como algo vanguardista. Quem era "irreverente" e "politicamente incorreto" era "in", e certos pseudo-esquerdistas caíram no delírio quando alguém fazia um falso maniqueísmo entre a direita, politicamente correta, e a esquerda, politicamente incorreta.

    Mas os tempos passaram e até vários pseudo-esquerdistas mais veteranos migraram para a direita. E há um tempo um jornalista "politicamente incorreto" é explicitamente um dos militantes da mídia de extrema-direita do país.

    O rapaz chama-se Leandro Narloch, cujo reacionarismo já foi alertado por Raphael Tsavkko Garcia. Ele está por trás de dois livros supostamente divertidos e bem-humorados, Guia do Politicamente Incorreto da América Latina - feito em parceria com Duda Teixeira - e Guia do Politicamente Incorreto da História do Brasil, que ele escreveu sozinho com todos os seus neurônios direitistas.

    Narloch foi da revista Veja e da Superinteressante - revista até certo ponto superinteressante, mas disse, entre outros equívocos que a Banda Calypso continuava indie mesmo assinando com a Som Livre - e é notório detrator dos imigrantes nordestinos que vivem em São Paulo.

    Pois os "divertidos" livros de Narloch são, na verdade, o equivalente brasileiro dos "manuais de idiotas" que Álvaro Vargas Llosa e amigos lançaram anos atrás. Vai no mesmo plano ideológico.

    Para Narloch, parece que o mundo é uma podridão só. João Goulart para ele é "corrupto", Che Guevara foi um sanguinário implacável e anti-roqueiro, e pouco lhe importam as virtudes do imperador D. Pedro II. Talvez para Narloch os únicos seres humanos que prestam no planeta Terra sejam aqueles cujo profeta maior é Tio Sam.
    Em suas entrevistas, Narloch até tem aquele jeito sinistro de depor do Paulo César Araújo, o historiador dos bregas que, mesmo conservador, é idolatrado pela esquerda mais frágil. O olhar sinistro, a mania de se justificar e de dizer que "batalhou muito para pesquisar e escrever seu(s) livro(s)" é totalmente o mesmo.

    A grande diferença é que Narloch não faz nos seus livros o discurso "positivo" de PC Araújo. Daí não ter chance de virar "deus" entre a intelectualidade etnocêntrica nem se fantasiar de "esquerdista" para figurar na Fórum e Caros Amigos. Até porque o que Narloch escreve é puro anti-esquerdismo, dos mais explícitos.

    Lendo os textos de Narloch, vê-se que seus "vilões" e "cafajestes" são quase sempre ligados a políticas nacionalistas ou socialistas, vistos ora como corruptos, ora como prepotentes, atrapalhados e metidos. Até Zumbi dos Palmares era visto como tão cruel com os negros quanto qualquer escravocrata.

    Ler esse livro, para quem acredita nos movimentos sociais, não deve ser jamais engraçado. Pelo contrário, é o mesmo pesadelo ideológico que se lê nas páginas de Veja. Leandro Narloch soa como uma versão mais pop de Diogo Mainardi e Reinaldo Azevedo, que já são versões pop de Olavo de Carvalho.

    Narloch demonstra ojeriza a índios, negros, nordestinos e portugueses, na sua historiografia politicamente incorreta. E politicamente reacionária. De repente, até Tio Patinhas, para Leandro Narloch, é muito mais digno de louvor do que qualquer ativista humanitário, sempre visto como uma figura sórdida escondida numa causa assistencialista.

    A maior lição que traz figuras como Leandro Narloch é que fazer movimentos sociais é, para ele, impossível. Não se pode abraçar uma causa social que, de acordo com a ótica dele, sempre resulta em corrupção.

    Leandro Narloch pode não ter a visibilidade que um William Waack e um Reinaldo Azevedo possuem, mas se ele não têm o poder de derrubar ministros de governos progressistas, pelo menos ele têm o poder de derrubar a memória histórica do nosso país.

    Para Narloch, o Brasil é um país corrupto e cruel, incompetente e impotente, o qual só tem uma única salvação: se vender para os EUA.

    Alexandre Figueiredo

    No Mingau de Aço


    Fonte: Blog Com Texto Livre


    OBS: Tenho os dois livros citados (Guia Politicamente Incorreto da América Latina e Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil), realmente é gritante o quão reacionário!Só lendo mesmo para ver as "pérolas"...tsc tsc tsc...

    Não ao preconceito.


    ‎"Ninguém nasce odiando outra pessoa
    pela cor de sua pele,
    ou por sua origem, ou sua religião.
    Para odiar, as pessoas precisam aprender,
    e se elas aprendem a odiar,
    podem ser ensinadas a amar,
    pois o amor chega mais naturalmente
    ao coração humano do que o seu oposto.
    A bondade humana é uma chama que pode ser oculta,
    jamais extinta."

    -Nelson Mandela

    LINDO DEMAIS....DIGA NÃO AO PRECONCEITO.

    BBB, a endocolonização das mentes.

    Do Projeto Biosfera 2 ao reality show "Big Brother": a Ecologia Maléfica

    O que há em comum entre o fracasso científico do Projeto Biosfera 2 em 1991 e o atual sucesso do gênero reality show? A ecologia maléfica. Das baratas e ervas daninhas que destruíram o Biosfera 2   à crueldade, preconceito e violência dos reality shows, ambos mantêm um vínculo secreto: a prospecção da mente e da consciência.

    Em 26 de setembro de 1991 quatro homens e quatro mulheres entraram numa gigantesca estrutura geodésica de vidro e metal com 12.000 metros quadrados, em Tucson, Arizona, em pleno deserto, para ali ficarem trancafiados por dois anos. Era o projeto Biosfera 2, abrigando 3.800 espécies animais e vegetais e simulações dos cinco principais biomas do planeta Terra , com o propósito de entender como a biosfera planetária funciona e como o ser humano interage com os ecossistemas. Foram monitorados por dois mil sensores eletrônicos e assistidos por 600 mil pagantes em todo o mundo.

    Alguns meses depois, em 15 de fevereiro de 1992 sete jovens entre 18 e 25 anos entraram no prédio 565 da Broadway Street, em Nova York, para ali permanecerem por três meses com diversas câmeras acompanhando suas vidas e seus relacionamentos. Era o início daquele que é considerado o primeiro Reality Show da TV mundial, o “The Real World” (Na Real) da MTV norte-americana.

    Em 16 de setembro de 1999, nove pessoas entraram em uma mansão em Almere, na Holanda, para ficarem também trancafiadas, desta vez por 106 dias, sem nenhum contato com o mundo exterior, acompanhados por uma parafernália de câmeras e microfones. Era a primeira edição do reality Show Big Brother idealizado pela empresa de entretenimentos Endemol. Embora o nome faça alusão a distopia literária de Gorge Orwel, “1984”, na verdade o programa foi explicitamente inspirado na experiência Biosfera 2 de, então, oito anos atrás.

    O que há em comum entre esses três eventos? Além do fato do produtor de TV holandês John De Mol ter admitido explicitamente que a ideia do formato do Big Brother fora inspirada no projeto Biosfera 2 (segundo ele, a inspiração veio após um considerável número de drinques), custa acreditar que a ideia dos produtores do seminal “The Real World” alguns meses depois do início do Biosfera 2 seja mera coincidência. Há uma profunda ligação entre o projeto técnico científico no deserto do Arizona no início dos anos 90 e a proliferação do gênero reality show na TV mundial.

    Fracasso científico, sucesso midiático

    Como experimento científico, o Projeto Biosfera 2 foi um resumo de todas as ideologias ecológicas, climáticas, microcósmicas e biogenéticas. Mas foi muito mais do que isso. Foi uma atração experimental. Bancado por um bilionário texano pela bagatela de 200 milhões de dólares, desde o início havia um implícito senso midiático e de espetáculo. É o momento em que a tecnociência se converte em show. Se não, como explicar a inviabilidade da pesquisa científica em um ambiente onde oito pesquisadores enclausurados e isolados do mundo passavam 95% do tempo lutando pela sobrevivência (fazendo a comida crescer, lutando contra pragas e tentando resolver problemas básicos como higiene e saúde). Não sobrava muito tempo para o trabalho científico.

    O Projeto foi um fracasso científico, mas um sucesso midiático. Dos objetivos iniciais publicamente divulgados como estudos dos biomas terrestres, dinâmica dos ecossistemas e sustentabilidade do ser humano em ambientes extraterrestres havia outro objetivo secreto: a endocolonização (a colonização interna da mente humana). Os milhares de sensores eletrônicos e câmeras espalhados no interior da gigantesca estrutura geodésica e o monitoramento ao vivo por meio de telas de TVs buscavam outros tipos de dados: o esquadrinhamento do comportamento humano, dessa vez não mais em laboratórios de psicologia, mas, agora, em cenografias controladas onde indivíduos lutam pela sobrevivência.

    A tecnociência atual perdeu há muito seu interesse por desbravar outros planetas, buscar uma Teoria Unificada do cosmos ou buscar um modelo unificado da biosfera. Hoje ela se volta para o interior da mente humana, indo além do estudo do seu comportamento: quer psicocartografar a consciência e a alma.
    Por trás dos altruístas e politicamente corretos objetivos (ecologia e sustentabilidade), estavam as origens do projeto tecnognóstico de uma psicocartografia do homem para a elaboração de modelos de simulação para uma não muito distante virtualização da mente e consciência. Em outras palavras mais diretas: contole, monitoramento e engenharia social.

    Não é à toa que o appeal midiático do projeto Biosfera 2 tenha contaminado o universo televisivo. Mas com uma diferença. Se no projeto tecnocientífico a ecologia e sustentabilidade foram álibis para a iniciativa de endocolonização, na TV, sob o álibi da interatividade, o gênero reality show transformou-se em laboratório etnográfico para prospectar dados e análise dos comportamentos e motivações. Não é à toa que muito dos vencedores desses programas acabam sendo convidados para darem palestras motivacionais em meios corporativos.

    Mais ainda, as dinâmicas, jogos e pegadinhas desses programas acabaram formando um estoque de táticas aplicáveis por técnicos de recursos humanos em seleção e treinamento em empresas. Numa surreal contaminação, hoje os ambientes corporativos com suas opressivas divisórias e baias não se diferenciam muitos dos realities televisivos. Funcionários (desculpe, “colaboradores”) são avaliados não tanto pelo conhecimento, mas, cada vez mais, por critérios comunicacionais e de relações semelhantes a programas como “No Limite” ou “Big Brother”.

    Biosfera 2 e Reality Show formaram uma secreta aliança: foram a vanguarda de uma verdadeira estratégia de agenda setting de popularizar e tornar aceitável à opinião pública os novos tempos em que vivemos, onde, sob o álibi da interatividade, todos disponibilizam gratuitamente em sites de relacionamento seus dados, aspirações, sonhos e fantasias pessoais em estado bruto para os banco de dados corporativos. Dados brutos que, graças as ciências cognitivas e neurológicas, serão a base de simulações do funcionamento da mente.

    A Ecologia Maléfica biológica e humana

    Pedro Bial tenta enquadrar  as situações
    vividas pelos participantes às suas
    crônicas moralizantes
     
    Um dos motivos apontados para o fracasso do Biosfera 2 foi a sua concepção científica positivista e linear que procura retirar da natureza o Mal, a catástrofe, o germe. Enclausurar os biomas terrestres num ambiente fechado, como uma espécie de Disneylandia ecológica, baseado num modelo de reciclagem, retroalimentação, estabilização e metaestabilização é como construir um paraíso ecológico idealizado. 

    Delírio tecnocientífico, como se tudo fosse previsível linearmente dentro de modelos ou simulações.
    O resultado foi catastrófico: ácaros e gafanhotos devoraram as plantações, Das 25 espécies de vertebrados apenas seis sobreviveram. Os únicos organismos que prosperaram foram ervas daninhas, formigas e baratas, muitas baratas! Nada mais gnóstico do que essa ecologia maléfica. Há algo de irredutível e intransponível para essa tecnociência: o Mal.

    Da mesma forma, essa ecologia maléfica ressurge, dessa vez nas relações humanas monitoradas pelos reality shows. Como já desenvolvemos em postagens anteriores (veja links abaixo) a indústria do entretenimento tenta restringir os eventos a roteiros, plots ou scripts que exorcizem a presença do mal: o acidente, a estupidez, o cruel, o irredutível, o niilismo, o “non sense” etc. Precisa exorcizar a presença do mal para restringir as suas narrativas às lições moralizantes e tranquilizadoras.

    Colocar seres humanos num ambiente fechado e monitorado é perigoso. Inadvertidamente pode mostrar, ao vivo, essa ecologia maléfica: assim como a natureza é predada por ervas daninhas, formigas e baratas, as relações humanas o são pela intolerância, preconceito, violência, estupidez e crueldade.

    No caso do atual "Big Brother Brasil", é visível o esforço não só da edição como do jornalista Pedro Bial, ao vivo, em tentar enquadrar as situações vividas pelos participantes às suas crônicas moralizantes que insistentemente recita antes da eliminação de um dos jogadores. A cada declaração politicamente incorreta de um participante, Bial intervém para diluir o impacto.

    Colocar tal “biodiversidade” confinada (gordos, atléticos, homossexuais, transsexuais, ricos, pobres, homofóbicos, heteros, emos... ) e transformar suas relações explosivamente maléficas em lições de moral é um desafio e tanto, assim como no projeto Biosfera 2 onde o sexo entre os tripulantes era proibido.

    Ao exorcizar o Mal e tentar manter um ambiente asséptico, o reality show, ironicamente, extirpa a interatividade que deveria ser o mote desse gênero televisivo. Como afirmou Claudio Silva, diretor que participou na criação do Big Brother na TV holandesa em 1999, os participantes não são eliminados tanto pela interatividade do show, mas pelo tédio de seus personagens.

    Fotos que enganam a mente.

    Fotos que enganam sua mente















    A decadência Européia.

    Decadência absoluta do Velho Mundo...

    sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

    O Brasil se indignou com a morte de um cãozinho, e com razão, mas porque não se indigna com um indiozinho queimado vivo?

    Criança indígena de 8 anos é queimada viva por madeireiros

    Mais uma vítima do progresso do agronegócio
    Quando a bestialidade emerge, fica difícil encontrar palavras para descrever qualquer pensamento ou sentimento que tenta compreender um acontecimento como esse.
    Na última segunda-feira (3) semana*. uma criança de oito anos foi queimada viva por madeireiros em Arame, cidade da região central do Maranhão.
    Enquanto a criança – da etnia awa-guajá – agonizava, os carrascos se divertiam com a cena.
    O caso não vai ganhar capa da Veja ou da Folha de São Paulo. Não vai aparecer no Jornal Nacional e não vai merecer um “isso é uma vergonha” do Boris Casoy.
    Também não vai virar TT no Twitter ou viral no Facebook.
    Não vai ser um tema de rodas de boteco, como o cãozinho que foi morto por uma enfermeira.
    E, obviamente, não vai gerar qualquer passeata da turma do Cansei ou do Cansei 2 (a turma criada no suco de caranguejo que diz combater a corrupção usando máscara do Guy Fawkes e fazendo carinha de indignada na Avenida Paulista ou na Esplanada dos Ministérios).
    Entretanto, se amanhã ou depois um índio der um tapa na cara de um fazendeiro ou madeireiro, em Arame ou em qualquer lugar do Brasil, não faltarão editoriais – em jornais, revistas, rádios, TVs e portais – para falar da “selvageria” e das tribos “não civilizadas” e da ameaça que elas representam para as pessoas de bem e para a democracia.
    Mas isso não vai ocorrer.
    E as “pessoas de bem” e bem informadas vão continuar achando que existe “muita terra para pouco índio” e, principalmente, que o progresso no campo é o agronegócio. Que modernos são a CNA e a Kátia Abreu.
    A área dos awa-guajá em Arame já está demarcada, mas os latifundiários da região não se importam com a lei. A lei, aliás, são eles que fazem. E ai de quem achar ruim.
    Os ruralistas brasileiros – aqueles que dizem que o atual Código Florestal representa uma ameaça à “classe produtora” brasileira – matam dois (sem terra ou quilombola ou sindicalista ou indígena ou pequeno pescador) por semana. E o MST (ou os índios ou os quilombolas) é violento. Ou os sindicatos são radicais.

    Os madeireiros que cobiçam o território dos awa-guajá em Arame não cessam um dia de ameaçar, intimidade e agredir os índios.
    E a situação é a mesma em todos os rincões do Brasil onde há um povo indígena lutando pela demarcação da sua área. Ou onde existe uma comunidade quilombola reivindicando a posse do seu território ou mesmo resistindo ao assédio de latifundiários que não aceitam as decisões do poder público. E o cenário se repete em acampamentos e assentamentos de trabalhadores rurais.
    Até quando?

    Em ano eleitoral ainda veremos muita sacanagem.

    or Fernando Brito Comentar
    Sei que estou comprando uma briga, e o faço em nome pessoal, sem sequer conversar sobre o assunto com o titular deste blog.
    Porque jornalista que só escreve o que o chefe manda, é escriba, não jornalista.
    Tão escandalizante quanto as declarações do sr. Dr. Laco, sem cedilha, chefe de política anti-drogas (?) do Governo paulista, de que usará “dor e sofrimento” como forma de levar os viciados em crack a buscarem tratamento, tão escandalizante quando a polícia paulista estar, esta tarde, atirando bombas contra os zumbis drogados que tentam voltar à Cracolândia é a falta de reação da “inteligência” paulistana e brasileira a este espetáculo dantesco.
    Nós, que temos 50 anos, que convivemos na juventude  com a generalização da droga, que podíamos ou podemos ter um filho ou uma filha ali, doentes e consumidos por uma situação assim, estamos assistindo silentes a este espetáculo terrível.
    Segundo a Folha, diz a própria PM que “havia, na cracolândia da rua Helvétia, 60 crianças e 20 grávidas”.
    É a eles, inclusive, que queremos impingir “dor e sofrimentos”, além de bombas?
    Não vemos a OAB, o Sindicato dos Médicos, ninguém levantando a voz contra o fato de, segundo os próprios jornais, a dispersão dos viciados da Cracolândia estar sendo feita essencialmente com porretes – e digo que, aí, os policiais são até os menos culpados, porque eles próprios sabem que isso é uma pantomima – e não com assistência médica e social.
    Os viciados da cracolândia podem agir como bichos irracionais, porque estão corroídos por uma dependência que lhes tira a razão e a ponderação. Nós é que não temos o direito de agir como bichos.
    Muito menos se essa ação espalhafatosa é puro marketing, destinada a cenas no Jornal Nacional que produzam imagem de um “combate à droga”  que é, antes, promoção da imagem da “autoridade” do que um ataque real ao problema.
    Uma sociedade à qual falta a compaixão, à qual o medo de dizer que aquilo que fere a dignidade humana jamais pode ser feito por ninguém, mas muito menos pelo Estado, que a todos nos representa está mais doente do que aqueles pobres drogados.
    Porque nós estamos lúcidos e sabemos discernir o certo do errado.
    Ou não sabemos mais? Ou não somos mais viciados em  amar o próximo?

    quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

    Brazilzilzilzizil.

    Vem aí o BBB.


    Querendo ou não, semana que vem o BBB entra em sua vida

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    Todo mês de janeiro, o Brasil tem ao menos duas certezas: a primeira é a de que incontáveis cidades se transformarão em piscinas infectas por conta das chuvas, e a segunda é a de que as pessoas só conseguirão se esconder do Big Brother Brasil saindo do país e abolindo qualquer contato com parentes, amigos, colegas de trabalho e com o noticiário.
    Essa invasão irrefreável de sua vida se deve à inabalável persistência da Globo em um programa que, além de só piorar a cada edição, jamais muda de formato. Aliás, esse talvez seja o pior defeito – entre muitos a escolher – não só do BBB, mas das telenovelas: a insuportável repetição de enredos.
    Novelas têm enredos, mas o Big Brother deveria ser a antítese delas devido à suposta imprevisibilidade do que poderiam fazer os “brothers”, ou seja, os jovens – alguns nem tanto – confinados à “Casa” – a multimilionária instalação cenográfica que, pelo 12º ano, abrigará a atração global.  Todavia, devido à repetição do perfil dos participantes, as situações acabam sendo sempre as mesmas, como nas telenovelas.
    Sempre digo que a única coisa que o BBB já produziu de útil para o país foi Jean Willys, o único ex “brother” que teve a generosidade e o espírito público de usar a fama e o dinheiro conquistados para se dedicar à sociedade – Willys se elegeu deputado federal pelo PSOL fluminense e, desde então, vem se expondo à fúria homofóbica em suas mais distintas versões, inclusive na inexplicável versão parlamentar em pleno Congresso Nacional.
    O ex “Brother” assumidamente homossexual poderia ter se resguardado da homofobia deixando-se cair no meio artístico, onde o preconceito a orientação sexual é impossível. Se tivesse optado pelo estrelato, sua orientação e a defesa dos direitos dos homossexuais não o exporiam a dementes como seu par no Congresso Jair Bolsonaro, do PP do Rio.
    Esse baiano de Alagoinhas que tanto superou na vida e que dedicou ao país o que auferiu deixa ver como o BBB poderia ser útil se priorizasse o talento e a inteligência em vez de apenas o físico e os níveis de mediocridade. Infelizmente, só nas primeiras edições do programa não havia o veto tácito que foi sendo imposto pela Globo a qualquer forma de vida inteligente.
    Contudo, pessoas dotadas de conteúdo intelectual não são as melhores para protagonizar as “baladas” nas quais aquela juventude se entrega ao alcoolismo, ao ridículo e ao comportamento vulgar sobretudo das garotas, muitas das quais se exibem para o país de forma intensamente degradante –  trôpegas, embriagadas e lascivas.
    Nada contra a sensualidade, aliás. Estamos em pleno século XXI. Todos gostam de ver pessoas bonitas, desde que o conceito de beleza não exclua certas etnias dos participantes. Além disso, o envolvimento sensual que o clima de confinamento necessariamente acaba exacerbando em jovens com hormônios em ebulição, é inevitável.
    Todavia, o BBB foi se transformando em uma atração em que o sexo é a viga-mestra. Aliás, a versão brasileira da franquia televisiva da holandesa Endemol é de longe a que mais se escora no voyeurismo, o que torna inevitável a erotização precoce das crianças porque elas não conseguem escapar do programa mesmo se os seus pais quiserem que escapem – e muitos não querem, até pela filosofia educacional que adotam.
    Mesmo que as crianças não possam assistir ao BBB em casa, assistem em celulares e computadores de outras crianças na escola ou nas casas dos colegas, ao visitá-los. Para os responsáveis por crianças que não querem ver assistindo a cenas degradantes de embriaguês ou de sexo, não há forma de impedi-las.
    É fato incontestável, portanto, que não há forma de impedir que, ano após ano, o BBB vá erotizando precocemente as nossas crianças. E um sintoma dessa erotização é a produção que está surgindo de sutiãs para garotas de oito ou dez anos que crescem vendo “exemplos” de moças esculturais caindo de bêbadas e sendo “traçadas” ao vivo e em rede nacional.
    Em países em que a comunicação tem regras, como nos Estados Unidos ou na Europa, não se permite essa erotização compulsória da infância e da juventude. O BBB, portanto, apesar de também ser inevitável em outras partes do mundo devido à tecnologia e à inserção social, nesses países não as envolve nessa teia de mediocridade, luxúria e burrice.
    O que se permite à Globo pôr na televisão aberta durante as edições do BBB, não se permite a tevê alguma em países em que crianças e adolescentes são considerados patrimônio da nação em vez de, apenas, consumidores.
    Dessa maneira, prepare-se: converse muito com seus filhos e netos pequenos durante os próximos dois ou três meses. Explique que nem sempre o que se vê na televisão deve ser imitado. Critique, com serenidade e didatismo, a situação das moças que hipotecam a própria dignidade, o uso indiscriminado de álcool e outros comportamentos reprováveis.
    Tente saber o que as crianças sabem dessa “atração” nefasta. Descubra o que viram e tente dirimir suas inevitáveis dúvidas, mostrando o que há de ruim em certos comportamentos. Não deixe de fazer isso porque, querendo ou não, semana que vem o BBB entra em sua vida e na de seus filhos, netos etc. Sob as barbas das autoridades.