sábado, 31 de março de 2012

Ditadura nunca mais.

Doutor Rosinha B e outros 3 amigos foram marcados na foto de Goretti Bussolo.
Lembrança dos crimes da ditadura militar: fazei isso em memória delas São mulheres de diferentes cidades do Brasil. Algumas amamentavam. Outras, grávidas, pariram na prisão ou, com a violência sofrida, abortaram. Não mereciam o inferno pelo qual passaram, ainda que fossem bandidas e pistoleiras. Não eram. Eram estudantes, professoras, jornalistas, médicas, assistentes sociais, bancárias, donas de casa. Quase todas militantes, inconformadas com a ditadura militar que em 1964 derrubou o presidente eleito. Foram presas, torturadas, violentadas. Muitas morreram ou desapareceram lutando para que hoje nós vivêssemos numa democracia. As histórias de 45 dessas mulheres mortas ou desaparecidas estão contadas no livro “Luta, Substantivo Feminino”, lançado quinta-feira passada, na PUC de São Paulo, na presença de mais de 500 pessoas. O livro contém ainda o testemunho de 27 sobreviventes e muitas fotos. Se um poste ouvir os depoimentos dilacerantes delas, o poste vai chorar diante da covardia dos seus algozes. Dá vergonha viver num mundo que não foi capaz de impedir crimes hediondos contra mulheres indefesas, cometidos por agentes do Estado pagos com o dinheiro do contribuinte. Rose Nogueira - jornalista, presa em 1969, em São Paulo, onde vive hoje. “Sobe depressa, Miss Brasil’, dizia o torturador enquanto me empurrava e beliscava minhas nádegas escada acima no Dops. Eu sangrava e não tinha absorvente. Eram os ‘40 dias’ do parto. Riram mais ainda quando ele veio para cima de mim e abriu meu vestido. Segurei os seios, o leite escorreu. Eu sabia que estava com um cheiro de suor, de sangue, de leite azedo. Ele (delegado Fleury) ria, zombava do cheiro horrível e mexia em seu sexo por cima da calça com um olhar de louco. O torturador zombava: ‘Esse leitinho o nenê não vai ter mais’”. Izabel Fávero - professora, presa em 1970, em Nova Aurora (PR). Hoje, vive no Recife, onde é docente universitária: “Eu, meu companheiro e os pais dele fomos torturados a noite toda ali, um na frente do outro. Era muito choque elétrico. Fomos literalmente saqueados. Levaram tudo o que tínhamos: as economias do meu sogro, a roupa de cama e até o meu enxoval. No dia seguinte, eu e meu companheiro fomos torturados pelo capitão Júlio Cerdá Mendes e pelo tenente Mário Expedito Ostrovski. Foi pau de arara, choques elétricos, jogo de empurrar e ameaças de estupro. Eu estava grávida de dois meses, e eles estavam sabendo. No quinto dia, depois de muito choque, pau de arara, ameaça de estupro e insultos, eu abortei. Quando melhorei, voltaram a me torturar”. Hecilda Fontelles Veiga - estudante de Ciências Sociais, presa em 1971, em Brasília. Hoje, vive em Belém, onde é professora da Universidade Federal do Pará. “Quando fui presa, minha barriga de cinco meses de gravidez já estava bem visível. Fui levada à delegacia da Polícia Federal, onde, diante da minha recusa em dar informações a respeito de meu marido, Paulo Fontelles, comecei a ouvir, sob socos e pontapés: ‘Filho dessa raça não deve nascer’. (…) me colocaram na cadeira do dragão, bateram em meu rosto, pescoço, pernas, e fui submetida à ‘tortura cientifica’. Da cadeira em que sentávamos saíam uns fios, que subiam pelas pernas e eram amarrados nos seios. As sensações que aquilo provocava eram indescritíveis: calor, frio, asfixia. Aí, levaram-me ao hospital da Guarnição de Brasília, onde fiquei até o nascimento do Paulo. Nesse dia, para apressar as coisas, o médico, irritadíssimo, induziu o parto e fez o corte sem anestesia”. Yara Spadini - assistente social presa em 1971, em São Paulo. Hoje, vive na mesma cidade, onde é professora aposentada da PUC. “Era muita gente em volta de mim. Um deles me deu pontapés e disse: ‘Você, com essa cara de filha de Maria, é uma filha da puta’. E me dava chutes. Depois, me levaram para a sala de tortura. Aí, começaram a me dar choques direto da tomada no tornozelo. Eram choques seguidos no mesmo lugar”. Inês Etienne Romeu - bancária, presa em São Paulo, em 1971. Hoje, vive em Belo Horizonte. “Fui conduzida para uma casa em Petrópolis. O dr. Roberto, um dos mais brutais torturadores, arrastou-me pelo chão, segurando-me pelos cabelos. Depois, tentou me estrangular e só me largou quando perdi os sentidos. Esbofetearam-me e deram-me pancadas na cabeça. Fui espancada várias vezes e levava choques elétricos na cabeça, nos pés, nas mãos e nos seios. O ‘Márcio’ invadia minha cela para ‘examinar’ meu ânus e verificar se o ‘Camarão’ havia praticado sodomia comigo. Esse mesmo ‘Márcio’ obrigou-me a segurar seu pênis, enquanto se contorcia obscenamente. Durante esse período fui estuprada duas vezes pelo ‘Camarão’ e era obrigada a limpar a cozinha completamente nua, ouvindo gracejos e obscenidades, os mais grosseiros”. Ignez Maria Raminger - estudante de Medicina Veterinária presa em 1970, em Porto Alegre, onde trabalha atualmente como técnica da Secretaria de Saúde. “Fui levada para o Dops, onde me submeteram a torturas como cadeira do dragão e pau de arara. Davam choques em várias partes do corpo, inclusive nos genitais. De violência sexual, só não houve cópula, mas metiam os dedos na minha vagina, enfiavam cassetete no ânus. Isso, além das obscenidades que falavam. Havia muita humilhação. E eu fui muito torturada, juntamente com o Gustavo [Buarque Schiller], porque descobriram que era meu companheiro”. Dilea Frate - estudante de Jornalismo presa em 1975, em São Paulo. Hoje, vive no Rio de Janeiro, onde é jornalista e escritora. “Dois homens entraram em casa e me sequestraram, juntamente com meu marido, o jornalista Paulo Markun. No DOI-Codi de São Paulo, levei choques nas mãos, nos pés e nas orelhas, alguns tapas e socos. Num determinado momento, eles extrapolaram e, rindo, puseram fogo nos meus cabelos, que passavam da cintura”. Cecília Coimbra - estudante de Psicologia presa em 1970, no Rio. Hoje, presidente do Grupo Tortura Nunca Mais e professora de Psicologia da Universidade Federal Fluminense: “Os guardas que me levavam, frequentemente encapuzada, percebiam minha fragilidade e constantemente praticavam vários abusos sexuais contra mim. Os choques elétricos no meu corpo nu e molhado eram cada vez mais intensos. Me senti desintegrar: a bexiga e os esfíncteres sem nenhum controle. ‘Isso não pode estar acontecendo: é um pesadelo… Eu não estou aqui…’, pensei. Vi meus três irmãos no DOI-Codi/RJ. Sem nenhuma militância política, foram sequestrados em suas casas, presos e torturados”. Maria Amélia de Almeida Teles - professora de educação artística presa em 1972, em São Paulo. Hoje é diretora da União de Mulheres de São Paulo. “Fomos levados diretamente para a Oban. Eu vi que quem comandava a operação do alto da escada era o coronel Ustra. Subi dois degraus e disse: ‘Isso que vocês estão fazendo é um absurdo’. Ele disse: ‘Foda-se, sua terrorista’, e bateu no meu rosto. Eu rolei no pátio. Aí, fui agarrada e arrastada para dentro. Me amarraram na cadeira do dragão, nua, e me deram choque no ânus, na vagina, no umbigo, no seio, na boca, no ouvido. Fiquei nessa cadeira, nua, e os caras se esfregavam em mim, se masturbavam em cima de mim. Mas com certeza a pior tortura foi ver meus filhos entrando na sala quando eu estava na cadeira do dragão. Eu estava nua, toda urinada por conta dos choques”. São muitos os depoimentos, que nos deixam envergonhados, indignados, estarrecidos, duvidando da natureza humana, especialmente porque sabemos que não foi uma aberração, um desvio de conduta de alguns indivíduos criminosos, mas uma política de Estado, que estimulou a tortura, a ponto de garantir a não punição a seus autores, com a concordância e a conivência de muita gente boa “em nome da conciliação nacional”. No lançamento do livro na PUC, a enfermeira Áurea Moretti, torturada em 1969, pediu a palavra para dizer que a anistia foi inócua, porque ela cumpriu pena de mais de quatro anos de cadeia, mas seus torturadores nem sequer foram processados pelos crimes que cometeram: “Uma vez eu vi um deles na rua, estava de óculos escuros e olhava o mundo por cima. Eu estava com minha filha e tremi”. Os fantasmas que ainda assombram nossa história recente precisam ser exorcizados, como uma garantia de que nunca mais possam ser ressuscitados - escreve a ministra Nilcea Freire, ex-reitora da UERJ, na apresentação do livro, que para ela significa o “reconhecimento do papel feminino fundamental nas lutas de resistência à ditadura”. Este é o terceiro livro da série “Direito à Memória e à Verdade”, editado pela Secretaria de Direitos Humanos (SEDH) em parceria com a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. O primeiro tratou de 40 afrodescendentes que morreram na luta contra o regime militar. O segundo contou a “História dos meninos e meninas marcados pela ditadura”. Eles podem ser baixados no site da SEDH. O golpe militar de 1964 que envelhece, mas não morre, completa 46 anos nos próximos dias. Essa é uma ocasião oportuna para lançar o livro em todas as capitais brasileiras. No Amazonas, as duas reitoras - Marilene Correa da UEA e Márcia Perales da UFAM - podiam muito bem organizar o evento em Manaus e convidar a sua colega Nilcea Freire para abri-lo. Afinal, preservar a memória é um dos deveres da universidade. As novas gerações precisam saber o que aconteceu. A lembrança de crimes tão monstruosos contra a maternidade, contra a mulher, contra a dignidade feminina, contra a vida, é dolorosa também para quem escreve e para quem lê. É como o sacrifício da missa para quem nele crê. A gente tem de lembrar diariamente para não ser condenado a repeti-lo: fazei isso em memória delas. O professor José Ribamar Bessa Freire coordena o Programa de Estudos dos Povos Indígenas (UERJ), pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Memória Social (UNIRIO). Mas a Folha de São Paulo, que apoiou o golpe e emprestava seus carros para os torturadores, disse que no Brasil teve uma "DITABRANDA" Postado por Marcos Inácio Fernandes

quarta-feira, 28 de março de 2012

Escandalo na Revista Veja.

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Caso Policarpo-Cachoeira: será pior que Murdoch?

Caso Policarpo-Cachoeira: será pior que Murdoch? Foto: Montagem/247

Silêncio de Veja, que ainda não se manifestou sobre as duzentas ligações grampeadas pela Polícia Federal entre o editor-chefe Policarpo Jr. e o contraventor Carlinhos Cachoeira, que está preso, desperta dúvidas; o Brasil assiste a um escândalo de tipo semelhante ao que levou ao fechamento do The News of the World, de Rupert Murdoch? Será possível encobri-lo?

28 de Março de 2012 às 21:03
247 – Relações incestuosas e, portanto, desvirtuadas entre jornalistas e fontes já causaram prisões e fecharam uma publicação secular. Na Inglaterra, ano passado. Diretora executiva da News Corp., o conglomerado de mídia do magnata Ruppert Murdoch, a jornalista Rebekah Brooks chegou a ser presa pela polícia inglesa, interrogada por 12 horas e libertada sob fiança somente após contar o que sabia a respeito do trabalho de apuração que incluía escutas ilegais sobre personalidades do país e aquisição de informações com policiais mediante pagamentos em dinheiro.
O jornal The News of the World, que veiculava o material obtido na maior parte das vezes por aqueles métodos, teve de ser fechado por Murdoch, depois de mais de cem anos de publicação, por força dos protestos dos leitores e do público em geral. Eles se sentiram ultrajados com o, digamos, jeitinho que a redação agia para obter seus furos. Os patrões Ruppert e seu filho James precisaram dar explicações formais ao Parlamento Britânico sobre as práticas obscuras. Ali, foram humilhados até mesmo por um banho de espuma a contragosto.
No Brasil, neste exato momento, a revista impressa de maior circulação do país está com seus métodos de apuração igualmente colocados em xeque. Afinal, o caso das duzentas ligações telefônicas grampeadas pela Polícia Federal, nas investigações da Operação Monte Carlo, envolve num circuito fechado, e privilegiado, um contraventor especializado em se infiltrar em grandes estruturas do establishment e o atual número dois da revista. O jornalista Policarpo Jr., que acumula o cargo de diretor da sucursal de Brasília, pode até ser visto como o número três ou quatro na hierarquia interna, à medida em que, em seu último arranjo de poder, o diretor de redação Eurídes Alcântara estabeleceu o singular modelo de ter três editores-chefe na publicação. Mas com pelo menos quinze anos de serviços prestados à revista no coração do poder, Policarpo, reconhece-se, é “o cara”. Ele foi repórter especial e seu estilo agressivo de atuar influenciou a atual geração de profissionais de Veja. Eles são temidos por sua capacidade de levantar escândalos, promover julgamentos morais e decretar o destino de reputações. A revista, a cada semana, se coloca como uma espécie de certificadora da moral e dos bons costumes no País, sempre pronta a baixar a marreta sobre o que julga fora dos seus padrões.
O problema, para Veja, é que o jogo de mão entre Policarpo Jr. e Carlinhos Cachoeira pode ter sido pesado, apesar de ainda não estar claro. O silêncio da revista a respeito não contribui em nada para o seu esclarecimento. A aparente relação de intimidade pessoal entre editor-chefe e o contraventor não apenas não é um fato como outro qualquer, como pode ser a ponta do maior escândalo de mídia já visto no Brasil. A não publicação, na edição de Veja que está nas bancas, da surpreendente descoberta de ligações perigosas entre o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) – que na terça-feira 26, sob intensa pressão, renunciou ao posto de líder do partido no Senado – e Cachoeira acentuou a percepção generalizada de que o bicheiro e o jornalista tinham um ou alguns pactos de proteção e ajuda. Será?
Em nome de ter a notícia em primeira mão, é admissível, do ponto de vista ético, ao profissional da mídia, manter relacionamentos privilegiados com quem ele considerar importante para este fim. Inclusive contraventores. O que não é eticamente aceitável é fazer com que esses relacionamentos derivem para a não publicação de notícias ou a divulgação parcial dos fatos.
O ex-governador José Serra, recentemente, foi apontado pelo ex-ministro em plena queda Wagner Rossi como um dos pauteiros (aquele que define os assuntos a serem abordados) de Veja. Pode ter sido um efeito de retórica do Rossi flagrado pela revista como dono de uma mansão incompatível com seu histórico de homem público. Mas jamais, como agora, houve a suspeita real de que um contraventor pudesse exercer o mesmo papel de, digamos, pauteiro externo da revista. A interrogação é procedente à medida em que, especialmente em Brasília, circulam rumores de que Policarpo comentaria abertamente com Cachoeira os assuntos que seriam abordados em edições futuras da revista e as angulações editoriais das reportagens.
Para qualquer um que trabalhe com informação, conhecer por antecipação o conteúdo de Veja é uma grande vantagem competitiva. Um assessor de imprensa, por exemplo. A posse desse tipo de ativo pode representar a diferença entre um bom contrato e nenhum contrato. Se se abre o espaço para a indicação de assuntos, então, ai o lobista entra no paraíso, passando a ter condições de posicionar seus interesses em espaços nobres que vão da capa à última folha do papel tipo bíblia de Veja, passando pela prestigiada sessão de entrevistas, as páginas amarelas. Será?
Na Inglaterra, em meio às primeiras informações sobre o real modo de agir dos jornalistas do The News of the World, a primeira reação da casa foi também a de silêncio. Em seguida, negativas. Mas os desdobramentos do caso, que incluíram o suicídio de um ex-alto funcionário do governo britânico, levantaram o véu da farsa e a verdade, finalmente, mostrou sua face. Na versão tupi, a suspeita é de que tenha ocorrido, entre Policarpo e Cachoeira, bem mais do que acontece num relacionamento normal entre jornalista e fonte de informação. Cachoeira, via Policarpo, talvez tenha se tornado um observador privilegiado da construção semanal da pauta política da revista, especialmente durante a eclosão do escândalo do mensalão, como afirmou ao 247 o ex-prefeito de Anápolis, Ernani de Paula.
Em nome de ter a notícia em primeira mão, é admissível, do ponto de vista ético, ao profissional da mídia manter relacionamentos privilegiados com quem ele considerar importante para este fim. Mas quase nunca é aceitável fazer com que esses relacionamentos derivem para a não publicação de notícias ou a divulgação parcial dos fatos.
Normalmente, o mundo político espera uma edição da revista Veja para conhecer o conteúdo que ela apresenta sobre os outros. Neste final de semana, o que se quer saber é o que Veja falará dela mesma.

Morre o grande jornalista e escritor Millôr Fernandes, Os maus ficam por aí deturpando a informação.


Millôr Fernandes (16/8/1923 - 28/3/2012)
Grande Millôr, pobre Millôr. De repente, um monte desses jornalistas que são a antítese (ainda) viva do humor fino e genial do grande mestre, esses que trasformaram a mídia num negócio grotesco e mal humorado, esses que se renderam à bajulação pura e simples dos que lhe pagam o soldo, enfim, esses que representam o anti-Millôr, deram para reverenciá-lo, depois de morto, como se houvesse alguma conexão entre eles.

Alheio a essa gente, Millôr morreu com essa dignidade que nos dignifica, apesar de ter sido traído pelos suspeitos de sempre, mesmo ele, que tudo sabia.
Adaptando o tradicional postulado financeiro internacional para a Bolsa de Valores brasileira: compre sempre na baixa, venda sempre na alta, e nao se abaixe para pegar o sabonete. (Millor)
Aos que insistem em que a economia é um assunto particular entre produtor e consumidor, respondo que assassinato é assunto particular entre assassino e vítima. (Millor)
Ele fica ali em frente, pendurado no andaime precário da obra na fachada do edifício. Trabalha 8 horas por dia, debaixo de um sol de 40 graus - à sombra, ali bate um sol de lascar! E a isso que se chama ganhar a vida. (Millor)
Politicos do PSDB tem curioso senso de oportunidade: ficam em cima do muro até a última hora e, quando nao tem mais jeito, saltam pro lado errado. (MIllor)
Os acontecimentos na verdade já nao acontecem. Sao fabricados nas poderosas oficinas da comunicacáo de massas. (Millor)
Numa democracia é fundamental que todos sejam ouvidos. Os que nao puderem ser ouvidos, poderao ser narizes e bocas. (Millor)
‎"Baiano só tem pânico no dia seguinte" - Millôr Fernandes  
Democracia é quando eu mando em você.  Ditadura é quando voce manda em mim. Millor Fernandes. Aos Políticos.

Globo tudo a ver ? O que está por trás das denúncias do Fantástico?

Apoio: Fundação Ford

DENÚNCIAS DO FANTÁSTICO

Um esquema sutil que poucos entenderam

Por Mário Augusto Jakobskind em 27/03/2012 na edição 687
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Boa parte dos brasileiros sabe perfeitamente que as Organizações Globo não pregam prego sem estopa. A recente reportagem apresentada no Fantástico sobre as denúncias de corrupção de quatro empresas flagradas oferecendo propinas para ganhar contratos em um núcleo do hospital da UFRJ, o Instituto Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira, está sendo apresentada como grande exemplo de jornalismo.
Mas um fato não está sendo levado em conta, chama a atenção e deve ser melhor analisado. O repórter da TV Globo foi acionado e autorizado para se apresentar como funcionário público do departamento de compras do núcleo do hospital que intermediaria o negócio lucrativo para as empresas.
Pergunta-se por que o diretor do núcleo do hospital, Edimilson Migowski, convocou a TV Globo e não a Polícia Federal para dar o flagrante e prender os pilantras? Por que só agora houve a denúncia quando até os postes do Rio de Janeiro sabem que há maracutaias nos mais diversos setores.
Lépidas e faceiras
É legal um jornalista se passar por funcionário de um organismo público, como o núcleo do hospital da UFRJ? Ambiente desta natureza pode ser ocupado por alguém estranho aos quadros? O que dispõe o Estatuto do Funcionalismo sobre a questão? Pelo estatuto do funcionário público, o diretor Edimilson Migowski não cometeu uma irregularidade sujeita a sanção por ter convocado alguém fora dos quadros do núcleo ou do hospital para exercer a função que não lhe cabe?
Por que tanto interesse da TV Globo em fazer isso num núcleo de atendimento às crianças no hospital universitário, ou seja, na área de saúde, e não também em outros organismos públicos e ministérios onde a corrupção campeia e não chega a ser nenhum segredo? Por que, por exemplo, não foram procurar as construtoras que utilizam o mesmo mecanismo corruptor e com valores até mais altos?
Por que as empresas jornalísticas, não aprofundam o que se passa na área de saúde no estado e no município do Rio de Janeiro, que está sendo privatizada pelas beiradas? E por que tanta surpresa do secretário de Saúde do governo Sérgio Cabral, Sérgio Cortes, com o esquema da corrupção quando as quatro empresas envolvidas trabalham com o estado há tempos e até financiaram campanhas de candidatos dos mais diversos partidos, do PMDB ao PT, passando por outros menos votados?
Cortes já sabia antes que as empresas faziam e aconteciam e tinham sido investigadas pela justiça, exatamente por corrupção, mas nada aconteceu. Seguiram trabalhando lépidas e faceiras. Mas como agora entrou a TV Globo na história, o secretário de Cabral se disse surpreso. Ora, se já sabia de outras irregularidades, por que o estado continuou aceitando os préstimos das empresas? Como ninguém questionou Cortes, como sempre tudo ficou por isso mesmo, pelo menos por enquanto. E agora ele se diz surpreso com o que foi mostrado.
Faltou ouvir
Por que, por exemplo, não se investiga o motivo pelo qual a Prefeitura do Rio de Janeiro está trabalhando ativamente com o Instituto Galileu, vinculado ao mundo financeiro, em detrimento de hospitais públicos, que estão sendo sucateados? Aí não interessa?
Por que os repasses das verbas do Sistema Único de Saúde (SUS) estão aumentando a cada ano e chegam 175 bilhões de reais em cinco anos, segundo informação do Ministério da Saúde e do jornal O Globo? Por que o mesmo jornal em seus editoriais reforça a tese contra a participação do Estado na área de saúde?
Tem muito mais. Um repórter ser apresentado em uma função que não lhe corresponde não é o mesmo que um médico sem diploma clinicar ou ainda qualquer um exercer o magistério como se fosse formado para tal função e não ser? Seria legal? Não é falsidade ideológica?
Corrupção em qualquer área deve ser combatida pelas autoridades policiais – no caso do núcleo do hospital da UFRJ, pela Polícia Federal. Mas para que colocar no circuito, antes da oficialização do fato delituoso, a TV Globo?
Por que não, por exemplo, investigar as licenças ambientais que a secretaria de Meio Ambiente do Estado, sob a direção do ecologista Carlos Minc, está concedendo ao trilionário Eike Batista em áreas que deveriam ser preservadas em São João da Barra? Aí não interessa?
Alguém procurou saber qual a posição do tal diretor que autorizou o repórter da Globo a se passar por funcionário do organismo? Em outras palavras, o diretor defende por acaso a privatização da área de saúde? Ou é a favor do SUS? Não seria também o caso de se procurar os funcionários públicos do núcleo para saber o que acham da história toda e a opinião que têm sobre os seus diretores?
Preços exorbitantes
Não é de hoje que a mídia de mercado tem feito campanhas contra o SUS e apresenta como solução a privatização da área de saúde. Se o SUS tem defeitos de gestão, e os tem, devem ser corrigidos porque a solução não pode ser a preconizada pela mídia de mercado que, na prática, favorece os planos de saúde particulares.
O SUS é talvez um dos sistemas de saúde mais adiantados do mundo. O presidente Barack Obama está penando para implantar um sistema de saúde que atenda a população carente, mas os altos interesses do setor se mobilizam fortemente para impedir. Se aqui nós temos um SUS, que precisa ser aperfeiçoado e corrigido em seus defeitos, por que colocar como alternativa a privatização da área de saúde?
Qual verdadeiramente o interesse da mídia de mercado em martelar quase diariamente, como que preparando a opinião pública para o que os neoliberais consideram inevitável, ou seja, a privatização da saúde?
Juridicamente, o que a TV Globo apresentou , colocando-se ilegalmente no lugar da Polícia Federal, terá consequência, além de romper um ou outro contrato das empresas que lucram absurdamente na área da saúde? Vamos ver as suítes das matérias.
Como se pode observar, a reportagem apresentada pelo Fantástico pode não ser tão benemérita assim no sentido de apenas mostrar a corrupção e não induzir a opinião pública no sentido de concluir que a culpa principal é o controle do Estado na área da saúde.
Sendo assim, os planos de saúde agradecem penhoradamente às Organizações Globo por mais essa serventia de grande valor. Mas podem estar certos de uma coisa: se conseguirem enfraquecer de vez o Estado, se hoje o atendimento aos de menor poder aquisitivo é deficiente, com o império dos planos de saúde a coisa vai ser muito pior. Só terá atendimento médico quem tiver como pagar planos de preços exorbitantes. E planos que mesmo assim deixam a desejar na hora do aperto.
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[Mário Augusto Jakobiskink é jornalista]

quinta-feira, 22 de março de 2012

A verdade sobre a Vale do Rio Doce

Saul Leblon: Heroi de acionistas da Vale é desmascarado

por Saul Leblon, em Carta Maior
Numa entrevista famosa de 2009, ao portal da revista Veja, FHC justificou a venda da Vale do Rio Doce, entre outras razões, ao fato de a 2ª maior empresa de minério do mundo ter se reduzido — na sua douta avaliação — a um cabide empregos, “que não pagava imposto, nem investia”.
Notícias frescas da Receita Federal abrem um contraponto constrangedor à discutível premissa fiscal tucana.
A Vale foi acionada e dificilmente escapará, exceto por boa vontade de togados amigos, de pagar R$ 30,5 bilhões sonegados ao fisco durante a década em que esteve sob o comando de Roger Agnelli. O calote, grosso modo, é dez vezes maior que o valor obtido pela venda da empresa, em 1997. Ademais do crime fiscal, o golpe injeta coerência extra aos personagens desse episódio-síntese de uma concepção de país e de desenvolvimento desautorizada, de vez, pela crise mundial.
Filho dileto do ciclo tucano das grandes alienações públicas, Roger Agnelli — presidente da Vale do Rio Doce de 2001 a 2011 — foi durante anos reportado ao país como a personificação da eficiência privada e das virtudes dos livres mercados na gestão das riquezas nacionais.
Com ele, graças a ele, e em decorrência da privatização — símbolo que ele encarnou, a Vale tornou-se uma campeã na distribuição de lucros a acionistas. Vedete das Bolsas, com faturamento turbinado pela demanda chinesa por minério bruto, que o Brasil depois reimportava, na forma de trilhos, por exemplo, –a única laminação para esse fim foi desativada pelo governo FHC — a Vale tornou-se o paradigma de desempenho corporativo aos olhos dos mercados.
Um banho de loja assegurado pelo colunismo econômico, ocultava a face de um negócio rudimentar, um raspa-tacho do patrimônio mineral alçado à condição de referência exemplar da narrativa privatista. A ‘eficiência à la Agnelli’ lambuzava o noticiário. Da cobertura econômica à eleitoral, era o argumento vivo a exorcizar ameaças à hegemonia dos ‘livres mercados’ instaurada na era tucana. Projetos soberanos de desenvolvimento, como o da área de petróleo, eram fuzilados com a munição generosa da Vale.
A política agressiva de distribuição de lucros aos acionistas — na verdade, um rentismo ostensivo, apoiado na lixiviação de recursos existentes, sem agregar capacidade produtiva ao sistema econômico– punha na Petrobrás o cabresto do mau exemplo. Era a resiliência estatista nacionalisteira, evidenciada em planos de investimento encharcados de preocupação industrializante e ‘onerosas’ regras de conteúdo local.
A teia de acionistas da Vale, formada por carteiras gordas de endinheirados, bancos e fundos, com notável capilaridade midiática, nunca sonegou gratidão ao herói pró-cíclico do boom das commodities metálicas. Enquanto o mundo mastigava avidamente o minério de teor de ferro mais elevado do planeta, Agnelli foi de vento em popa, incensado a cada balanço, seguido de robustas rodadas de distribuição de lucros.
No primeiro soluço da crise mundial, em 2008, o herói pró-cíclico reagiu como tal e inverteu o bote: a Vale foi a primeira grande empresa a cortar 1.300 trabalhadores em dezembro, exatamente quando o governo Lula tomava medidas contracíclicas na frente do crédito, do consumo e do investimento. A Petrobrás não demitiu; reafirmou seus investimentos no pré-sal, da ordem de US$ 200 bilhões até 2014. Se a dirigisse um herói dos acionistas, teria rifado o pré-sal na mesma roleta da Vale: predação imediatista, fastígio dos acionistas e prejuízos para o país.
Em seu último ano na empresa, Agnelli distribuiu US$ 4 bi aos acionistas. Indiferente aos apelos de Lula, recusou-se a investir US$ 1,5 bi numa laminadora de trilhos que agregasse valor a um naco das quase 300 milhões de toneladas de minério bruto exportadas anualmente pela empresa. Resistiu no cargo até consumar-se a derrota de José Serra. Com a vitória de Dilma, o conselho foi destituído, em abril de 2011.
Agora se sabe que o centurião do credo tucano –e dos bolsos dos acionistas– não se valia apenas da alardeada proficiência administrativa para cumprir as metas da ganância rentista. Além de pagar apenas 2% de royalties ao país, a Vale no ciclo Agnelli notabilizou-se por sonegar R$ 30,5 bilhões em Imposto de Renda e CSLL aos cofres públicos.
Com o velho truque de contabilizar em subsidiárias no exterior ganhos de fato auferidos pela matriz, surrupiou ao país quase um ano de faturamento da empresa (da ordem de R$ 37 bi em 2011).
Com o processo movido pela Receita Federal , fecha-se um ciclo, mas ainda resta um personagem importante da história a ser desmascarado. Na mencionada conversa entre camaradas, no portal da Veja, em 2009, FHC admitiu que “teve resistência psicológica” à venda da Vale. E deu crédito ao impulso de entusiasmo engajado que o motivou: “O Serra foi um dos que mais lutaram a favor da privatização da Vale. Digo isso porque muita gente diz assim: ‘O Serra é estatizante…’ Mas não: ele entendeu isso. Da Light também. O Serra… (foi dos que mais lutaram)”

sexta-feira, 16 de março de 2012

Base aliada não pensa no Brasil. Só pensa em emendas e cargos.

Panfleto e desabafo


Paulo Costa Lima, Terra Magazine
“Não é hora de dividir. O mundo se reparte em crises, mas nós temos conseguido crescer.
Qualquer um que tenha vivido a década de 80, de paradeiro total e inflação de até 80% num mês, fica pasmo diante dessa situação de agora, de nossa imunidade.
Pois bem, saímos da década de 80, e da ditadura que até ela se estendeu - construímos um caminho político com democracia e eleição dos líderes.
Temos uma presidente que conta com aprovação de maioria esmagadora da sociedade - e no entanto temos que conviver diariamente com um clima de instabilidade política.
Ninguém agüenta mais essa idéia retrógrada de base aliada cobrando cargos e ministérios de porteira fechada, sem a vigilância da presidência, como teve o desplante de falar um nobre deputado há poucos dias.
É um tapa na cara de todos os cidadãos que prezam a transparência e honestidade, e que apóiam todas as iniciativas da presidente Dilma nessa direção.
Nós, sociedade civil, organizada ou desorganizada, temos de reagir, temos de mostrar aos nossos representantes que, ou eles defendem os princípios de moralidade, ou defendem o Brasil acima dos interesses setoriais, ou estarão fora do jogo.
Precisamos mandar um recado muito claro para a classe política, e para a mídia em geral. Estamos aqui quietos em nossos cotidianos brasileiros, mas sabemos nos irritar, sabemos muito bem quem tem boas intenções e quem deseja apenas levar vantagem. E podemos transformar isso em votos.
O Brasil não fez o esforço que fez, organizou a economia nos anos 90, ultrapassou barreiras impensáveis, trouxe 40 milhões de pessoas para um nível de participação mais decente (ou menos indecente)... para perder o bonde da história e se desestruturar em politicagens insanas.
O recado vale para toda a base aliada. Especialmente os que aceitarem a carapuça e a fama de fisiológicos e oportunistas. Vocês fizeram um pacto de governança, aderiram a princípios que devem nortear o bem do coletivo. Portanto, parem de provocar a nossa inteligência...
Mas o recado vale também para o próprio partido líder, que apesar de nesse tempo de agora poder liderar a narrativa da emancipação e da superação - apesar dessa sorte e dessa nobreza, às vezes se divide internamente, e vez por outra esquece que foram muitas mãos que construíram o caminho até aqui...
E você, caro leitor, saiba que não sou filiado a qualquer partido político. Acho a participação em partidos saudável, e creio que a população devia entrar maciçamente em todos os partidos, para vigiá-los, para guiar as decisões...
Os partidos produzem discursos de análise e de alternativas - expõem trajetórias e símbolos daquilo que podemos abraçar ou deixar de lado.
Neste momento nós elegemos uma presidente, e ela tem se esforçado para desempenhar o seu papel de forma exemplar. Precisamos reagir à altura, e defendê-la... Esse é um ativo que ela conquistou.
Fiquemos atentos portanto - e chega de votar em quem não sabe manter seus compromissos de fidelidade ao bem coletivo, e trata a política como máquina de levar vantagem.”
Imagem: Dilma em sessão no Senado (foto: Roberto Stuckert Filho/PR/Divulgação)