Por Marco Nascimento
Olha, achei a data:
12 de junho! Dia dos namorados. Podia ser o Dia do Capitão Sérgio.
Do Blog Mídia Independente
Por WB 15/06/2008 às 18:16
Sérgio era admirado por indianistas como os irmãos Vilas-Boas e o médico
Noel Nutels. Foi amigo de caciques como Raoni, Kremure, Megaron, Krumari e
Kretire. Os índios o chamavam “Nambiguá caraíba” (homem branco amigo). Aos 37
anos, Sérgio Macaco (como era conhecido na Aeronáutica) já tinha seis mil horas
de vôo e 900 saltos em missões humanitárias, de resgate e socorro em geral.
Todavia o tipo de tarefa que lhe seria proposta ali pelos oficiais não era nem
um pouco digna ou solidária.
Dia 12 de junho de 1968, o capitão para-quedista Sérgio Ribeiro Miranda
de Carvalho, convocado a uma reunião, foi recebido no gabinete do ministro da
Aeronáutica pelos brigadeiros Hipólito da Costa e João Paulo Burnier, que viria
a se tornar conhecido como torturador e assassino.
Sérgio era admirado por indianistas como os irmãos Vilas-Boas e o médico
Noel Nutels. Foi amigo de caciques como Raoni, Kremure, Megaron, Krumari e
Kretire. Os índios o chamavam “Nambiguá caraíba” (homem branco amigo). Aos 37
anos, Sérgio Macaco (como era conhecido na Aeronáutica) já tinha seis mil horas
de vôo e 900 saltos em missões humanitárias, de resgate e socorro em geral.
Todavia o tipo de tarefa que lhe seria proposta ali pelos oficiais não era nem
um pouco digna ou solidária.
? O senhor tem quatro medalhas por bravura, não tem? ? indagou Burnier.
Sérgio respondeu afirmativamente. Então o brigadeiro continuou:
? Pois a quinta, quem vai colocar no seu peito sou eu ? fez uma pausa. ?
Capitão, se o gasômetro da avenida Brasil explodir às seis horas da tarde,
quantas pessoas morrem?
Achando que a pergunta se referia apenas à remota hipótese de um
acidente na cidade do Rio de Janeiro, Sergio respondeu:
? Nessa hora de movimento, umas 100 mil pessoas.
Foi nesse momento que os dois brigadeiros começaram a explicar um
terrível plano terrorista das Forças Armadas e qual deveria ser a participação
de Sérgio. Os dois propuseram que ele, acompanhado por outros para-quedistas,
colocasse bombas na porta da Sears, do Citibank, da embaixada americana,
causando algumas mortes. Em seguida viria a grande carnificina: queriam que
dinamitasse a Represa de Ribeirão das Lajes e, simultaneamente, explodisse o
gasômetro. As cargas, de efeito retardado, seriam colocadas pelo capitão
Sérgio, que depois ficaria aguardando, no Campo dos Afonsos, o surgimento duma
grande claridade. Aí ele decolaria de helicóptero e aportaria no local da
tragédia posando de bonzinho, prestando socorro a milhares de feridos e
recolhendo mortos vítimados pela ação da própria Aeronáutica.
Colocariam a culpa nos grupos esquerdistas que lutavam contra a
ditadura. Sérgio seria tido como herói por salvar as supostas vítimas dos
“comunistas” e receberia sua quinta medalha, enquanto a ditadura teria um
pretexto para aumentar a repressão a socialistas e democratas.
O capitão se negou a participar de uma ação tão vil. Declarou
corajosamente aos bandidos fardados:
? O que torna uma missão legal e moral não é a presença de dois
oficiais-generais à frente dela, o que a torna legal é a natureza da missão.
Outros em seu lugar simplesmente encolheriam os ombros e obedeceriam aos
superiores, iriam se desculpar dizendo que estavam apenas “cumprindo ordens”.
Mas Sérgio era ético, íntegro, não tinha obediência cega a ninguém, seguia
acima de tudo sua consciência e valores. Era um homem de verdade: denunciou o
plano diabólico e evitou aquela que seria a maior tragédia da nossa história.
Foi perseguido pela ditadura, discriminado, removido para o Recife,
reformado na marra aos 37 anos, cassado pelo AI-5 e pelo Ato Complementar 19,
curtiu prisão… só não puderam quebrar-lhe integridade e honra, sua firmeza de
ser humano. Sérgio se recusou a ser anistiado. “Anistia-se a quem cometeu
alguma falta”, costumava dizer. “Não posso ser anistiado pelo crime que
evitei”.
Em 1970, necessitando de um tratamento de coluna, aconselharam-no a não
se internar em unidade militar, pois certamente seria assassinado lá dentro.
Graças ao jornalista Darwin Brandão, com auxílio do médico Sérgio Carneiro, o
capitão acabou sendo tratado clandestinamente no Hospital Miguel Couto.
Nos anos 90, o Supremo Tribunal Federal determinou indenização e
promoção de Sérgio a brigadeiro. Tal sentença dependia, porém, da assinatura de
Itamar Franco. Itamar, como se sabe, não é nenhum modelo de virtude e, não por
acaso, foi vice do corrupto Fernando Collor de Mello, que foi prefeito biônico
de Maceió durante a ditadura e se criou politicamente graças ao regime militar…
Por seis meses, o presidente Itamar Franco ? mesmo sabendo que Sérgio
estava acometido de um câncer terminal no estômago ? guardou, na gaveta, a
sentença do STF favorável ao capitão. Só a assinou três dias depois da morte do
herói ocorrida em 4 de fevereiro de 1994.
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