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Por
Davis Sena Filho* —
Blog Palavra Livre
“Obviamente, esses meios de comunicação estão fazendo de fato a posição
oposicionista deste País, já que a oposição está profundamente
fragilizada”. (Judith Brito, presidenta da Associação Nacional de
Jornais (ANJ) e executiva do Grupo Folha de São Paulo, em 18 de março de
2010).
“Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária,
demagógica e corrupta formará um público tão vil quanto ela mesma”.
(Joseph Pulitzer – 1847/1911)
Há 30 anos lido com o jornalismo —
a partir de 1981. Formei-me na Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ) em meados da década de 1980. Naquele tempo eu via a imprensa, a
chamada “grande” imprensa como um instrumento de proteção da sociedade,
além de considerá-la, apesar de pertencer à iniciativa privada e
comercial, entidade democrática disposta a defender as liberdades de
pensamento, de expressão, com o propósito de, por exemplo, apoiar ações
que efetivassem a distribuição de renda, de terras, enfim, das riquezas
produzidas pelos trabalhadores e acumuladas pelos empresários deste
imenso País injusto. Eu era jovem, inexperiente e, além disso, no País
não existia liberdade democrática, havia a censura, as pessoas não
falavam de política no dia a dia, o que dificultava ainda mais perceber
os reais interesses da imprensa empresarial. Como me formei na metade da
década de 1980, cujo presidente da República era o general João
Figueiredo, via a imprensa como um segmento que lutava em favor de uma
sociedade que se tornasse justa, democrática e livre, processo este que
somente acontece por intermédio da implementação constante de justiça
social, por meio de políticas públicas desenvolvimentistas e
distributivistas.
Naquele tempo, vivíamos em um regime de força,
que teve seu auge nos idos de 1967 a 1977, a imprensa, recém-saída da
censura, que “terminou”, definitivamente, em 1978, era vista por mim,
jovem jornalista, como um instrumento de resistência aos que
transformaram a República brasileira em uma ditadura militar, com a
aquiescência e o apoio financeiro e logístico de influentes segmentos
econômicos da sociedade civil, que viram na ascensão dos militares ao
poder uma forma também de aumentar seus lucros, sem, no entanto, serem
alvos de quaisquer questionamentos, já que havia a censura e a oposição
partidária à ditadura se encontrava em um momento de perseguição
política e sem voz ativa para ser ouvida, inclusive pela grande imprensa
que, por ser comercial, bem como o braço ideológico das elites
econômicas brasileiras, aliou-se aos novos donos do poder.
O
jornalista minimamente alfabetizado, experiente e informado,
independente de sua formação cultural, política e ideológica,
independente de sua influência profissional e de seu contracheque, sabe
(ou finge não saber) que os proprietários da imprensa privada são
megaempresários, inquilinos do pico da pirâmide social mundial e
pontas-de-lança dos interesses do capital. A imprensa burguesa censura a
si mesma, quando considera que os interesses empresariais estão a ser
contrariados. O faz de forma rotineira, ordinária, e expurga de seus
quadros aqueles que não se unem ao pensamento único do Partido da
Imprensa, que é o de disseminar, ou seja, propagar, aos quatro cantos,
que não há salvação fora do mercado de ações, dos jogos bancários, da
especulação imobiliária e da pasteurização das idéias, geralmente
difundidas pelos doutores, mestres e professores das universidades e dos
órgãos de supremacia e de espoliação internacional, como o BID, o Bird,
o FED, a ONU, a OEA, a OTAN, o FMI, a OMC e a OMS.
Paralelamente,
o Partido da Imprensa elege como adversários aqueles que contestam o
sistema do capital como ele o é, ou seja, concentrador de renda, e
exigem que ele se democratize no sentido de ele diminuir as diferenças
entre as classes sociais e com isso efetivar uma equiparação, uma
equanimidade entre os indivíduos que compõem o tecido social das nações
que integram o planeta e são vítimas da geopolítica, que na verdade é a
principal ferramenta do apartheid social e econômico entre os países. Os
inimigos da imprensa burguesa geralmente são os políticos que têm uma
visão soberana em relação ao país que administram e acreditam em idéias e
ideais que qualifiquem os homens como iguais. São políticos que
elaboram e adotam programas distributivistas. São políticos
nacionalistas, como os presidentes estadunidenses, porém sem ser
xenófobos, e que lutam pelo desenvolvimento do país, a fim de conquistar
tecnologias e pesquisas científicas próprias, ter o controle das
diferentes energias, além de acreditar em uma diplomacia não alinhada
aos países hegemônicos, com o objetivo de efetivar uma relação de igual
para igual e não subordinada e servil, como muitos jornalistas do
Partido da Imprensa, a soldo de seus patrões, de forma inadvertida e
irresponsável apregoam e desejam.
A imprensa comercial acusa e
sentencia, difama e calunia, dissimula e desinforma e mente se preciso
for e se julgar que determinado governante não vai ler por sua cartilha,
que é a mesma dos grandes conglomerados e trustes internacionais.
Porque, como disse anteriormente, a imprensa é ponta-de-lança dos
interesses do sistema capitalista excludente, além de ser seu braço
ideológico. Ela é a vitrine desse modelo expropriador, useiro e vezeiro
em propiciar o infortúnio e a derrota daqueles que ousaram um dia
colocar em prática e até mesmo somente defender a tese, por exemplo, de
um Brasil forte, independente e soberano. Caro leitor, o que concorda ou
não comigo, a imprensa é necessária e tem de ter liberdade para
informar, mas não deve e não pode tomar partidos, defender grupos e
tentar pautar as instituições republicanas. Ser jornalista não é
sinônimo de ser intelectual, dono e juiz da verdade, infalível ou senhor
do poder. Ser jornalista é ouvir e compreender, se for possível, o
pensamento, as idéias, os ideais, as opiniões, as teses, os projetos, os
programas, os propósitos, as atitudes, as ações e até mesmo as
ideologias dos atores sociais, políticos e econômicos.
O
jornalista é a ponte que une o ator social e a informação à população,
ao povo, apenas isso e nada mais. Se o jornalista quer pautar a
sociedade e as suas instituições ele já tomou partido, e, como o termo
explicita, partidas serão suas opiniões. Portanto, o mais correto é se
filiar a um partido político, conquanto que não seja, todavia, o Partido
da Imprensa, que não disputa voto e, por ser ousado e não se olhar no
espelho, quer fazer da República Federativa do Brasil seu feudo,
conforme sua vontade, fato que foi provado, reiteradamente, nas questões
relativas à luta pela terra por parte do MST, nas questões concernentes
às reivindicações trabalhistas e salariais dos trabalhadores dos
setores público e privado, nas questões referentes às eleições para
presidente, governadores e prefeitos e nas questões tangentes às crises
políticas que derrubaram presidentes como Getúlio Vargas e João Goulart,
bem como na questão que influenciou na derrota do candidato Luiz Inácio
Lula da Silva nas eleições presidenciais de 1989, bem como na tentativa
de golpe contra o presidente Lula em 2005, além de ter perseguido,
incessantemente, políticos da envergadura de Juscelino Kubitschek,
Leonel Brizola, Luís Carlos Prestes, Miguel Arraes e até mesmo Ulysses
Guimarães, muito menos palatável para o Partido da Imprensa do que
Tancredo Neves.
O Partido da Imprensa combate tudo aquilo que
possa dividir as riquezas deste País, no que tange à redistribuição de
renda. Quase todos os programas sociais e econômicos apresentados no
Brasil não tiveram o apoio da imprensa hegemônica. Além do mais, a
imprensa combateu e combate ferozmente as políticas públicas
independentes e desenvolvimentistas executadas por Getúlio Vargas,
Juscelino Kubitschek, João Goulart, Luiz Inácio Lula da Silva e agora,
de maneira dura, o governo da presidenta Dilma Rousseff. E isto é só o
começo. O Partido da Imprensa vai recrudescer seus ataques a Dilma
quando ele desistir, totalmente, de fingir apoio moderadíssimo à
governante, para depois, evidentemente, voltar à carga total no que é
relativo aos seus ataques ao Governo, ainda mais quando ficar claro quem
vai ser o candidato da direita nas eleições para presidente da
República em 2014.
Para se ter uma idéia da desfaçatez e da
insensatez do Partido da Imprensa, ele combateu a criação da Petrobras,
da Vale do Rio Doce, da CSN e das leis trabalhistas — a CLT. Em
compensação, apoiou as tentativas de golpe em 1932, em 1938 e em
1954/1955, além de participar dos golpes militares de 1945 (“golpe
branco”) e de 1964. A imprensa golpista sempre se aliou aos partidos
conservadores, notadamente com a UDN de Carlos Lacerda, Eduardo Gomes e
Juarez Távora, partido moralista e elitista, que recebia o apoio dos
empresários e de parte da classe média de perfil conservador.
Posteriormente, a UDN mudou a sigla e passou a ser conhecida como Arena
no governo militar, depois PDS para, anos depois, virar PFL que, em
2007, finalmente, passou a se chamar Democratas — o DEM.
Como a
direita brasileira tem no máximo 30% dos votos, tanto que sempre andou a
reboque de partidos de centro e de centro esquerda, o DEM (PFL), por
exemplo, aliou-se, em 1989, a Fernando Collor e a seu minúsculo PRN. Em
1994, teve de se aliar ao PSDB para chegar ao poder, com seu
vice-presidente Marco Maciel, o que foi ratificado nas eleições de 1998.
No período Lula, nos anos 2000, a agremiação conservadora continuou
como vagão dos tucanos. Antes, em 1960, o DEM, que é a UDN, apoiou Jânio
Quadros, que foi eleito presidente pelo pequeno PDC. Todavia, os
udenistas não confiavam em Jânio, considerado um político independente,
porque transitava pelos espaços da direita e da esquerda, o que não
agradava os direitistas, que desde 1930 sonhavam assumir novamente o
poder, como nos tempos da República Café com Leite. Jânio, tal qual o
Collor, não “dialogava” com o Congresso.
Como se percebe, o DEM
nunca teve força política para chegar à Presidência da República como
partido hegemônico. Enfim, chegou ao poder em 1964, por meio de um golpe
militar que derrubou o presidente trabalhista João Goulart, eleito
constitucionalmente pelo voto direto. Naquele tempo o vice-presidente
era eleito separadamente. Não existia a chapa vinculada. Todos esses
fatos tiveram o apoio do Partido da Imprensa, que é empresarial e apoia e
sempre apoiou políticas econômicas artificiais como o é o
neoliberalismo, que fracassou e hoje até o FMI, guardião desse fracasso,
avisa aos maus navegantes, como ele, que vai modificar seu processo de
ajuda, de coordenação e de fiscalização das políticas públicas,
econômicas e financeiras receitado aos países pobres e em
desenvolvimento.
No Brasil, na América Latina, na Ásia e na África as receitas
econômicas e financeiras do Bird e do FMI causaram problemas sociais tão
graves que mesmo os governantes neoliberais dos países dessas regiões
perceberam que não dava para continuar o processo de espoliação desses
povos, sem que seus governos caíssem ou fossem derrubados. Mesmo assim,
os conservadores, os direitistas do mundo empresarial e político, no
Brasil leia-se DEM, Fenaban, Fiesp, agronegócios e, principalmente,
Partido da Imprensa, continuaram a apregoar o que não deu certo, o
indefensável e o que causou dor aos mais pobres, aos mais fracos e aos
que não podem se defender.
O Partido da Imprensa, com seus
profissionais bem pagos e com a cabeça feita por Wall Street e pelo
Consenso de Washington de 1989, prosseguiram, de forma ridícula, sem ao
menos ponderar suas palavras levianas, a apregoar um modelo econômico
verdadeiramente contrário aos interesses da Nação até que, por
intermédio de eleições, os defensores dessa política econômica burra e
nefasta foram afastados do poder, tanto no Brasil quanto em muitos
outros países. Não se compreende, até hoje, o que leva algumas elites a
fazer gol contra. Mas se compreende que, ao contrário do que afirmam os
gurus do capitalismo de mercado que estabelecem regras somente para os
mais pobres e os mais fracos e dizem se preocupar em assegurar a
efetivação de um estado de bem-estar social, que dignifique a pessoa
humana, sabemos que o que importa à grande imprensa e a direita política
do planeta é perpetuar os privilégios daqueles que fazem parte de sua
classe social — os ricos e os muito ricos.
Há uma espécie de
seres humanos que dá pena. Acha que riqueza é genética, é biologia.
Quando na verdade a riqueza é um processo que envolve milhões, quiçá
bilhões de pessoas que a produz. Não é uma questão biológica. É uma
questão econômica e financeira que precisa, deve e pode ser calculada e
equacionada no sentido de distribuí-la. Se dinheiro e bens materiais
fossem parte de nossa biologia nasceriam com a gente e seriam conosco
levados ao caixão. Não consigo entender como alguns jornalistas que se
alimentaram adequadamente, que estudaram em boas escolas, que têm
capacidade de discernir se tornaram tão pusilânimes, cínicos,
dissimulados, covardes e mentirosos. Eles são um contra-senso em toda
sua essência e a burrice em toda sua plenitude. Somente alguns advogados
atingem a tanta incongruência.
A imprensa é parcial. Sua voz e
seus canais de comunicação pertencem aos que controlam e dominam o
mercado de capitais e os meios de produção, pelo simples fato de a
imprensa ser o próprio, o espelho que reflete a imagem do sistema. Ela
traduz os valores e os princípios do modelo econômico hegemônico. Ela é o
principal e o mais importante tentáculo do sistema capitalista. Ela é a
sua alma e a sua voz. Não há poder pleno sem o apoio da imprensa, para o
bem ou para o mal. Seja qual for o poder, a imprensa não abre mão de
manter os privilégios do segmento empresarial. Ela até compõe, mas
ressalta seus interesses e resguarda os privilégios. Não há hegemonia de
uma classe social sobre as outras sem o controle dos meios de
comunicação. E é este processo, draconiano, que acontece no Brasil e na
América Latina.
O acesso da maioria das populações ao
crescimento social e ao desenvolvimento econômico acontece a
conta-gotas, milenarmente. No caso do Brasil, secularmente. É como
acontece em jogos de futebol, quando o time que está a ganhar passa
tocar a bola, à espera de o tempo passar, à espera de o jogo terminar.
Os barões da imprensa, como patrões seculares, querem o fim do jogo e
para isso eles precisam pautar os poderes constituídos e, inclusive, não
raramente, questionar cláusulas pétreas da Constituição, como, por
exemplo, os capítulos voltados ao trabalho e aos meios de comunicação.
Meia dúzia de famílias quer o controle total e irrestrito dos meios de
comunicação. Meia dúzia de famílias brasileiras, ao representar o grande
empresariado nacional e internacional, quer a flexibilização das leis
trabalhistas, constituídas pelo estadista Getúlio Vargas, que se matou
em 1954 para não ser derrubado, mais uma vez, pela UDN, pelos militares,
pelo empresariado e pela imprensa. Getúlio teve de se matar para adiar o
golpe militar por dez anos, o que ocorreu em 1964.
Para isso,
os barões da imprensa contratam jornalistas de confiança. Os jornais
criticam os cargos de confiança no âmbito governamental, mas não
criticam seus cargos de confiança, pagos a soldos altos, para que certos
profissionais façam o papel de defensores do status quo, do
establishment, razão pela qual talvez tenhamos uma das elites mais
cruéis e alienadas do mundo, totalmente divorciada dos interesses do
povo brasileiro, há mais de cinco séculos. Tudo o que é feito em prol do
povo, os homens e as mulheres de imprensa, os que ocupam cargos de
mando, chamam de populismo. Mas tiveram a insensatez e a ignorância
política em defender o neoliberalismo, que fracassou de forma inapelável
e retumbante. Até mesmo jornalistas considerados experientes como o
Renato Machado e a Renata Vasconcellos, do “Bom Dia Brasil” da TV Globo,
saudaram, da forma mais imprudente e capciosa possível, o golpe
sofrido, em abril de 2002, pelo presidente constitucional da Venezuela,
Hugo Chávez, que foi, inclusive, absurdamente seqüestrado, com o apoio
da CIA do governo de George Walker Bush, que se antodenominava o senhor
da guerra.
Meu comentário não visa constranger o Renato Machado,
até porque não o conheço. Cito apenas um fato real, de conhecimento
público, notório e que ficou na memória e na retina de muitos
brasileiros, porque a saudação ao golpe foi incrivelmente surreal, um
despropósito. Renato Machado, de perfil político conservador igual a
tantos outros jornalistas, apenas, talvez até inconscientemente,
comemorou a queda, mesmo através da violência, de um homem constituído
presidente, pois eleito pela vontade do povo. Machado simplesmente
reflete o desprezo do Partido da Imprensa em relação aos interesses da
sociedade, em relação às determinações e aos desejos da sociedade civil.
Não há nenhuma surpresa. O Partido da Imprensa age assim, mostra-se
assim, só que, muitas vezes, inversamente ao Machado, apresenta-se de
forma dissimulada.
Renato Machado no dia seguinte à sua
comemoração em referência ao golpe contra o presidente venezuelano
apareceu visivelmente constrangido. Acho que ele não tinha dimensionado
sua atitude. Sua imagem, pálida e assustada, como se tivesse levado um
grande susto ou uma bronca deveria ser gravada pelas pessoas alheias ao
jornal matutino da TV Globo, com a finalidade de ser levada às escolas
de comunicação para servir de exemplo aos futuros jornalistas como NÃO
se deve proceder ou conduzir sua profissão. Foi realmente lamentável.
Mas não foi uma surpresa. O Partido da Imprensa trabalha assim. Saímos
da ditadura militar para a ditadura da imprensa. Igualmente os meios de
comunicação hegemônicos apoiaram o golpe de estado em Honduras, sem
vacilar, inclusive criticaram, com veemência, por intermédio de suas
manchetes, de seus colunistas e comentaristas, a decisão do Governo
brasileiro de receber em sua embaixada o presidente deposto de Honduras,
Manuel Zelaya. Empresários e militares hondurenhos efetivaram o golpe,
com apoio do governo dos Estados Unidos. O Partido da Imprensa, aqui no
Brasil, ficou entusiasmado. Desconfio que até hoje os próceres da
imprensa estão a brindar o golpe de estado, e devem sonhar com o ano de
1964 — saudosamente.
Dentre os muitos erros perpetrados pelos
militares, um dos maiores foi a censura aos meios de comunicação. E por
quê? Porque hoje, no regime democrático, a imprensa se recusa a ser
regulamentada como acontece com outros setores da sociedade e, por que
não, do mercado. Ela usa como argumento que criar, por exemplo, o
Conselho Federal de Jornalismo é tentar censurar a imprensa, o que não é
verdade. Criar o Conselho é regulamentar os meios de comunicação, que
não podem deixar de ser fiscalizados, como o são os juízes, os médicos,
os advogados, os professores, os arquitetos e engenheiros, os
economistas, os contadores, os políticos etc. etc., por intermédio de
seus órgãos de classe profissional.
Para evitar a criação do
Conselho Federal de Jornalismo e de uma política que funcione como marco
regulatório para os meios de comunicação, o Partido da Imprensa usa
como argumento, há muito tempo surrado, que tentar regulamentar a
imprensa é censurá-la, como ocorreu na ditadura militar. A verdade é que
os barões da imprensa e seus jornalistas de confiança não querem a
democratização dos meios de comunicação, porque não querem responder,
como os outros profissionais, pelos seus erros, muitas vezes
exemplificados em calúnias, difamações, omissões, distorções e
manipulações das informações noticiosas, além da clara intromissão no
processo político brasileiro, ao tomar partido de determinado candidato,
geralmente de perfil conservador e elitista.
Além disso,
extinguiram a Lei de Imprensa, sem antes, no entanto, criarem
instrumentos que a regulamente, como, por exemplo, a Ley dos Medios
aprovada na Argentina. Absurdo dos absurdos é deixar uma imprensa, uma
mídia de passado golpista e mercantil sem um marco regulatório. A
presidenta Dilma não pode e não deve deixar de regulamentar e criar
regras para o setor dos meios de comunicação de perfil empresarial e
comprometido com os interesses geopolíticos dos Estados Unidos e com o
grande empresariado nacional e internacional. Uma presidenta trabalhista
como a Dilma jamais deveria vacilar quanto à elaboração e aprovação de
uma Ley dos Medios para o Brasil e o seu povo trabalhador. Seria uma
séria imprudência. Lembremo-nos de Getúlio Vargas, João Goulart, Leonel
Brizola e do presidente Lula, todos perseguidos pela imprensa privada,
de forma dura e desumana. Dilma sabe disso. Ela fez carreira política no
berço do trabalhismo brasileiro, que é o Estado do Rio Grande do Sul, e
viu o presidente Lula comer o pão que o diabo amassou durante oito
anos.
Não é necessário ser um especialista em “assuntos de
imprensa” para perceber que ela é um desastre em relação aos interesses
da sociedade. Ditatorial, raivosa e vaidosa não mede conseqüências para
fazer do processo político brasileiro uma novela de má qualidade
textual, cujo objetivo é somente a manchete, chamariz comercial para a
imprensa vender e ganhar muito dinheiro, mesmo se for com o linchamento
moral de terceiros, muitos deles, depois comprovado, sem culpa no
cartório.
Sua atuação é incompetente, porque, sistematicamente,
não tem ouvido nenhuma das partes implicadas ou envolvidas em quaisquer
fatos, mas sim ouvido a si mesma, por meio de suas deduções e de seu
raciocínio ardiloso, intelectualmente desonesto, que visam confundir o
público e assim garantir seus interesses. Por tudo isso, o Partido da
Imprensa é contra qualquer criação de órgão que possa acompanhar seus
passos, como o Conselho Federal de Jornalismo e o Programa Nacional de
Direitos Humanos (PNDH-3). Além do mais, os barões da imprensa se
recusaram a participar da Conferência Nacional de Comunicação
(Confecom), realizada em dezembro de 2009, que estabelece novo modelo
para o setor, que atualmente é um monopólio de meia dúzia de famílias,
que combatem os avanços sociais da sociedade brasileira. O documento
elaborado no evento vai ser analisado e avaliado pelos poderes
constituídos, para depois se transformar ou não em lei. Os empresários
proprietários da imprensa e da mídia comercial não querem debater e
negociar nada. Querem que as coisas fiquem como estão, o que não será
possível, ainda mais que Dilma Rousseff venceu as eleições para
presidente em 2010. Evidentemente que alguma coisa vai mudar.
A
arrogância e a prepotência de meia dúzia de famílias que controlam os
meios de comunicação no Brasil não favorecem a democratização da
imprensa, o que impede que ela, de fato, trabalhe em benefício do
desenvolvimento social do povo brasileiro, em vez de ficar a distorcer
realidades ou criar fatos, muitos deles sem fundamento, mas, contudo,
propositais, pois a finalidade é confundir a sociedade e,
conseqüentemente, proteger ou concretizar seus interesses e do grande
empresariado, geralmente financeiros e econômicos. Essas atitudes,
sobremaneira, prejudicam as atividades daqueles que são incumbidos pelo
povo para administrar os três poderes.
A imprensa quer falar
pelo povo e representá-lo, mas não disputa eleições e não concorre a
cargos públicos. Ela não tem voto. A imprensa é tão arrogante e
ignorante que confunde opinião pública com opinião publicada. A imprensa
publica e opina, por meio de matérias combinadas, de editoriais, de
articulistas e de colunistas. Por isso, sua opinião é publicada. Ela
paga a profissionais para publicar suas opiniões sobre determinado
assunto. Por sua vez, a opinião pública é feita, é realizada e é
concretizada por intermédio do voto. Portanto, o voto é a opinião
pública. Palavra e opinião de jornalista ou de quaisquer outras pessoas
que atuam em outros segmentos é opinião publicada. Então, vamos ver se a
imprensa entendeu: 1) jornalista = opinião publicada, que, por sinal,
tem valor. 2) povo = opinião pública = o voto, que, por sinal, tem muito
mais valor. É isso aí. --
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*Davis Sena Filho trabalhou em Câmara
dos Deputados, Correio Braziliense, Funasa, Editora do Ministério da
Saúde, Radiobras, Jornal de Brasília, Tribuna da Imprensa, SBT, Câmara
Legislativa do DF, entre outros. Viveu em Brasília, Campo Grande, Uberaba.